A Albufeira do Caia tem sido alvo de acções ilegais de espantamento de Grous, uma ave ameaçada e emblemática da região alentejana, podendo o descontentamento de alguns agricultores por alegados prejuízos estar na origem destas acções, que têm que ser tratadas e fiscalizadas eficazmente.
O Grou, Grus grus, é uma espécie ameaçada e protegida por Lei. Entre Novembro e Fevereiro estas aves podem ser observadas alimentando-se nos campos de cereal e nos montados de azinho do Alentejo. Ocorrem num número reduzido de áreas, localizadas maioritariamente na Rede Natura 2000. A Albufeira do Caia, situada nos municípios de Elvas, Campo Maior e Arronches, é um local fundamental para a protecção do Grou no Alentejo. Esta albufeira alberga um dormitório de com quase 1000 destas aves.
A SPEA está muito preocupada com o crescimento de um sentimento contra o Grou no seio dos agricultores da região. Há proprietários que se queixam de prejuízos nas searas de trigo e na colheita de bolota de azinho. Este descontentamento atingiu neste Inverno um ponto crítico, verdadeiramente inaceitável. A SPEA sabe que têm havido acções de espantamento ilegais nas áreas de alimentação e de dormida. Neste Inverno os dormitórios na Albufeira do Caia foram continuadamente perturbados com tiros de caçadeira durante a noite, levando ao desaparecimento dos Grous no final do mês de Dezembro.
A SPEA apela aos agricultores para que não espantem os Grous. Este tipo de acção tem que ser devidamente autorizado pelo ICNB e apenas depois de esgotadas todas as alternativas de protecção dos cultivos e das aves. A SPEA lembra que a grande maioria dos agricultores destas áreas recebe o Regime de Pagamento Único, uma ajuda directa paga pela Política Agrícola Comum, que os obriga a cumprirem a Directiva Aves, no âmbito da qual o Grou é uma espécie estritamente protegida. Estes proprietários podem candidatar-se ainda a uma ajuda extra para Manutenção da Actividade Agrícola na Rede Natura 2000 (Medida 2.1.2 PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural). Domingos Leitão, Coordenador do Programa Terrestre da SPEA, afirma que “o Grou e a Rede Natura 2000 deverão ser cada vez mais olhados pelos agricultores como um benefício e não como um problema”.
A SPEA sugere aos agricultores “afectados” que procedam a pequenos ajustes das suas práticas, de forma a evitar conflitos com os Grous. Pequenas alterações, como não lavrar e não queimar os restolhos de cereal, antecipar a data da sementeira, usar variedades de ciclo longo, etc. Este tipo de práticas estão a ser promovidas na Extremadura espanhola, de forma a reduzir os riscos para as searas. Nos casos em que estas medidas não resultam, o agricultor deve contactar o ICNB para que a sua situação seja avaliada. A SPEA espera que o ICNB investigue rigorosamente as queixas dos agricultores e que autorize os espantamentos só se houver um motivo para os mesmos, e apenas nas áreas de alimentação. Os espantamentos não poderão, sob qualquer pretexto, ser autorizados nos dormitórios.
Domingos Leitão acrescenta que “é inacreditável que no Alentejo ocorram espantamentos de grous, quando deveríamos celebrar o espectáculo que estes visitantes alados nos proporcionam”. Aliás, é isso mesmo o que acontece na vizinha Extremadura (Espanha), onde os grous são promovidos como um espectáculo natural, que atrai visitantes de toda a Espanha e de todo o Mundo. No Alentejo faz muita falta a promoção turística das aves e da natureza. Para que sejam vistas como uma oportunidade de desenvolvimento local e uma atracção turística, em que o Alentejo pode ser líder.
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