quarta-feira, 24 de março de 2010

Combate à erosão costeira recebe 100 milhões após inverno “agressivo”


Depois de um inverno “especialmente agressivo”, o combate à erosão costeira e a requalificação das zonas afectadas vão ser alvo este ano de um investimento de 100 milhões de euros, adiantou à Lusa a ministra do Ambiente.

Segundo Dulce Pássaro, as condições meteorológicas dos últimos meses foram motivo de preocupação em pontos mais vulneráveis, como as ilhas barreiras do Algarve (o caso que requer uma intervenção mais célere) ou a zona da Lagoa de Óbidos, mas “nenhuma situação é irrecuperável”.

“Vamos ter de investir mais, em alguns casos, em protecção, recuperação e requalificação”, afirmou Dulce Pássaro, referindo que os 100 milhões estimados para 2010 integram o Plano de Ação para o Litoral 2007-2013, que inclui verbas comunitárias, da administração central e de autarquias.

A ministra disse que o montante vai permitir “salvar a costa” portuguesa e sublinhou que a tutela não se vai coibir de solucionar os problemas a nível da construção que se coloquem nas zonas mais sensíveis.

“Respeitando os direitos das pessoas, temos de actuar, é uma questão de defendermos o bem público e de minimizarmos os riscos”, defendeu.

Já em Fevereiro, a Administração Regional Hidrográfica do Centro teve de intervir com urgência para proteger a avenida marginal de Ovar das investidas do mar, na praia do Furadouro, numa zona onde habitualmente há acumulação de sedimentos e não erosão.

O organismo informou que tem estado a avaliar uma solução definitiva em colaboração com a câmara: “Essas medidas passam pela elaboração de um projecto já em curso, para reforço do muro que limita a marginal, e que será alvo de uma candidatura ao Programa Operacional de Valorização do Território, dado existirem riscos evidentes”.

Segundo o presidente da autarquia, Manuel Alves de Oliveira, é fundamental intervir também em São Pedro de Maceda, onde o avanço do mar tem sido “muito acentuado” e aumentado o risco para uma base aérea e um antigo aterro.

Na Marinha Grande, a zona que gera maiores preocupações é São Pedro de Moel, onde o inverno provocou mais queda de rochas e as obras de estabilização das arribas só agora vai arrancar.

“A derrocada das arribas está iminente”, adiantou o vice-presidente do município, Paulo Vicente, apontando como outra inquietação a Praia da Vieira, cuja erosão atribui em parte ao “alargamento dos pontões do porto da Figueira da Foz”.

Mais a sul, a Câmara de Sines considera não existirem situações de “risco de derrocada imediata”, mas a palavra de ordem continua a ser, para o presidente Manuel Coelho, prevenir.

A falésia em que assenta a fortaleza do Pessegueiro, a praia da Samouqueira (Porto Covo) e a praia Vasco da Gama (Sines) são apontadas como as áreas mais vulneráveis.

Já no Algarve, ascendem a 14 as praias que foram alvo de reparações de arribas devido às tempestades de mar deste inverno, incluídas na classe dos anos em que se registaram as situações de rutura mais graves.

Tempestades de mar do inverno obrigam à reparação de 14 locais no Algarve

As tempestades de mar deste inverno no litoral algarvio obrigaram já a intervenções de reparação de arribas em 14 praias, disse à agência Lusa fonte da Administração da Região Hidrográfica do Algarve (ARH).

Foram já executadas intervenções de reparação das arribas nas praias de Belharucas, Olhos d’Água, Maria Luísa, Oura, Santa Eulália, Forte S. João e Inatel, no concelho de Albufeira, mas também em Armação de Pêra (Silves), Pintadinho, Caneiros (Lagoa).

As arribas nas praias Três Castelos e Careanos, no concelho de Portimão, no Tonel, em Vila do Bispo e Portinho do Forno, Aljezur, completam os 14 locais do litoral do Algarve em que a ARH teve de realizar obras de reparação.

O efeito das tempestades de mar no inverno 2009-2010 no litoral do Algarve “permite a sua inclusão na classe dos anos em que se registaram as situações de ruptura mais graves no litoral do Algarve, com período de retorno de 10 anos, nomeadamente as registadas nos anos de 1978/79; 1989/90 e 1995/96, em consequência quer da intensidade do fenómeno, quer da sua concentração no tempo, quer da sua frequência”, informa.

A persistência da agitação marítima com alturas igual ou superior a 2,5 metros atingiu um nível pouco frequente, com período de retorno da ordem de 20 anos, um quadro que originou uma mobilização global dos areais das praias, ou seja um “rebaixamento generalizado do nível de areia das praias e transferência da areia para a zona submarina”.

“Deste rebaixamento do nível da areia resultou em muitos casos, o aparecimento da plataforma rochosa e de calhau rolado, que constitui a base das praias suportadas por arribas”, explica a ARH.

A sequência das tempestades provocou também desmoronamentos nas arribas rochosas concentradas na frente costeira de Albufeira, entre as praias das Belharucas (a nascente) e a da Baleeira (a poente).

Também nas arribas arenosas entre a praia das Belharucas e o Garrão foram registadas diversas derrocadas. Um dos episódios foi na praia da Fuzeta, onde foram total ou parcialmente destruídas 44 das 71 casas ali existentes. Sete casas foram destruídas em Dezembro de 2009, 11 em Janeiro de 2010, 17 em Fevereiro e mais nove este mês.

No sistema de ilhas barreira da Ria Formosa foram também registados galgamentos em todas as ilhas e penínsulas, verificando-se atravessamento total das ilhas, sendo os mais significativos os que ocorreram na praia de Faro, ilha da Barreta, praia da Fuzeta e Ilha de Cabanas.

Durante este inverno foram ainda registados no Algarve níveis de sobreelevação das cotas da maré, com registos de 60 a 70 centímetros acima da maré prevista, de onde resultaram inundações em Ferragudo, Santa Luzia e Tavira.

Obras na Praia da Areia Branca avançam este ano para travar erosão agravada pelo Inverno

As obras de consolidação da arriba a norte da praia da Areia Branca (Lourinhã), onde uma parte desmoronou em 2005 sem fazer vítimas, vão avançar este ano após o Verão face ao avanço da erosão, revelou a autarquia.

“Obtivemos uma resposta da secretária de Estado do Ordenamento do território e as obras vão ser iniciadas este ano, após o Verão e durante seis meses”, afirmou à Lusa Vital Rosário, vereador com o pelouro da gestão do litoral na Câmara da Lourinhã.

A instabilidade da arriba na zona, conhecida por Casal dos Patos, é o caso mais preocupante do litoral do concelho, para onde está previsto desde 1997 um projecto de consolidação do talude, mas as obras têm vindo a ser adiadas pelo Instituto da Água (INAG).

Na zona, parte da arriba desmoronou em 2005, deixando uma vala de três metros no jardim de uma habitação e motivando uma queixa no Parlamento Europeu por parte dos seus proprietários um ano depois, a solicitar uma intervenção de fundo, além da retirada dos blocos instáveis.

“Por ser uma zona de grande afluência, deixa-nos muitas reservas em relação ao Verão, na medida em que temos tido uma evolução muito desfavorável de aumento do risco com infiltração das águas”, adiantou o autarca, que esteve já este ano no local com técnicos do INAG.

Neste sentido e para minimizar eventuais acidentes que possam ocorrer durante a época balnear, a arriba vai ser delimitada com um perímetro de segurança para evitar a aproximação dos banhistas.

O autarca explicou que existe risco de “deslizamento” da arriba em caso de um tremor de terra ou de um Verão muito seco, após as fortes chuvas de inverno, uma vez que se trata de um caso de infiltração de águas no topo da arriba que tornam o solo mais instável e sujeito a deslizamentos.

Apesar de ser uma zona com casas no topo da arriba, o principal perigo é para os banhistas que no verão se refugiam junto às arribas para se abrigarem do vento, disse.

Segundo o autarca, “em virtude das intempéries deste inverno, as arribas estão mais instáveis [em todo o concelho], têm ocorrido fenómenos de deslizamentos e queda de rochas”, existindo casos também preocupantes nas praias de Paimogo, Porto Barcas, Porto Dinheiro e Valmitão, para as quais não estão previstas obras de estabilização.

Fonte: LUSA

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