Portugal não está a aproveitar uma importante riqueza que são as algas, capaz de desenvolver indústrias locais, num país sem paralelo pela sua biodiversidade, onde se encontram espécies características do Norte da Europa, mediterrânicas e tropicais, segundo um especialista.
Apesar da sua extensa região costeira, da rica biodiversidade, e das múltiplas aplicações das macroalgas, como produto alimentar, na investigação biomédica, e nas indústrias alimentar, de cosmética e farmacêutica, Portugal praticamente não dispõe de actividades económicas associadas.
Leonel Pereira, especialista e docente na Universidade de Coimbra, ciente desse potencial, criou o portal português das macroalgas - o "MACOI - Portuguese Seaweeds Website" - e tem-se empenhado em divulgar junto de autarquias e associações o potencial desta riqueza natural, para a indústria e a gastronomia.
"Não há mais nenhum país europeu com estas características. Potencialmente deveríamos ter esta área muito desenvolvida em Portugal, porque temos condições ótimas e deveria haver muita gente a trabalhar neste sector, na investigação e utilização industrial e comercial", referiu à agência Lusa o investigador.
Contudo, recorda que em meados do século passado Portugal chegou a ser um dos maiores produtores mundiais de "agarófitas", do "agar" (substância extraída das algas marinhas), um componente com elevado valor económico, utilizado na indústria alimentar e na investigação científica, em culturas de tecidos e microbiológicas.
Segundo o docente, até então era o Japão que fornecia os mercados internacionais, mas a sua entrada na II Guerra Mundial ajudou a que a "muitas populações ribeirinhas", de pescadores, tirassem partido dessa actividade, sobretudo no Sudoeste alentejano e no Oeste.
Das várias empresas que na altura operavam com "agar" - frisou - agora só é conhecida uma, a multinacional Iberagar, instalada na Península de Setúbal, e trabalha exclusivamente com algas importadas.
Leonel Pereira realça que as características da costa portuguesa, muito exposta, e com grande ondulação, não favorece o desenvolvimento da maricultura, mas pode ser feita nos estuários dos rios, nas antigas salinas e nas rias, de Aveiro e Formosa, que, acredita, com a implementação da Diretiva Quadro da Água ficarão suficientemente despoluídas.
Nas antigas salinas poderia desenvolver-se uma "aquacultura multitrófica", ou seja, uma cultura em que simultaneamente se combinam a produção de peixes, bivalves ou mariscos, com a de macroalgas.
Optando pelas macroalgas adequadas elas poderão ter uma dupla função. Servirem de "biofiltradores naturais", de purificadores da água onde se produzem os peixes, e a sua biomassa aproveitada para fins industriais, alimentares, ou como fertilizantes.
Como Portugal não conseguirá produzir em larga escala como acontece nos países asiáticos, pelas condições adversas da costa, poderá apostar em nichos de mercado, e "tirar partido de qualquer coisa especial que os outros não conseguem", adiantou.
Na sua tese de doutoramento Leonel Pereira comparou as algas vermelhas de Portugal com as de outras partes do mundo e concluiu que as portuguesas "são das mais ricas na quantidade e na qualidade das 'carragenanas'", que têm um elevado uso na gastronomia e como aditivos da indústria alimentar.
Portugal poderá também tirar partido de uma preocupação da indústria transformadora das macroalgas, que a é de encontrar alternativas de fornecimento a médio prazo por receio de que as alterações climáticas inviabilizem as culturas em regiões actualmente produtoras. Como o país dispõe de microalgas características de águas frias e águas quentes, o impacto das alterações climáticas poderá ser menor nestas culturas.
Fonte: LUSA
segunda-feira, 15 de março de 2010
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