Estão mais do que reconhecidas as duas ilhas de plástico existentes no Oceano Pacífico Norte e no Oceano Atlântico Norte, formadas por correntes marítimas convergentes. Mas existem mais três turbilhões destes que, caso não se faça nada, podem também ficar cheios de lixo.
"Todas as amostras obtidas na superfície no meio do Atlântico continham fragmentos de plástico, não importava onde deixávamos cair o nosso equipamento de arrasto." Quem relata é Anna Cummins, uma das cientistas que navegam a bordo do Sea Dragon, barco do projecto 5 Gyres. Este pretende comprovar que existe lixo flutuante em cada um dos cincos principais turbilhões oceânicos (gyres): no Pacífico Norte, Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul e Índico.
Até agora foram comprovadas a existência de sopas de plástico no Pacífico e Atlântico Norte. Especialistas contactados pelo DN confirmam: é provável que nos outros turbilhões este fenómeno venha também a acontecer.
"O turbilhão oceânico de grande escala existe em todos os oceanos e não há dúvidas que pode ocorrer uma ilha de plástico em cada um deles", diz ao DN Jesus Dubert do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro.
De forma simples, como preferiu explicar, o lixo acumula-se porque, depois de entrar no centro de um turbilhão, não consegue mais sair. Vejamos o caso do turbilhão do Atlântico Norte: "A corrente do Golfo, que sobe pela Flórida [EUA] em direcção ao Canadá funciona como um motor da circulação do Oceano Atlântico. Depois vira em direcção à Europa, descendo, por exemplo, pela corrente de Portugal. Ao chegar à zona equatorial sobe e fecha o ciclo". O resultado é uma acumulação de lixo no Mar de Sargaços, num turbilhão permanente do qual não há maneira de sair. O funcionamento dos outros vórtices é semelhante.
"Os plásticos a boiar têm o aspecto de medusas. As tartarugas alimentam-se destes animais, confundem-nos e podem morrer asfixiadas", conta Alexandra Cunha, presidente da Liga de Protecção da Natureza (LPN) e bióloga marinha. "O plástico não desaparece. Vai se desfazendo até só sobrarem partículas que vão poluir a água e envenenar os animais", acrescenta. Por outro lado, as aves e peixes de maior porte vão ficar com o estômago cheio de lixo o que vai dificultar a alimentação e digestão.
"Vim há pouco tempo de África e fiquei assustada com a falta de cuidado com o lixo. Há excesso de resíduos e os países não estão preparados. Não há reciclagem", conta a presidente da LPN, preocupada com a possibilidade de o lixo começar a ser despejado no mar em zonas próximas de dois dos turbilhões: o do Oceano Atlântico Sul e do Oceano Índico. Para Alexandra Cunha, as embalagens de plástico são uma mudança recente, com um resultado confortável, mas ambientalmente mau: "Há 30 anos não se bebia em garrafas de plástico e o caminho é voltar a usar-se embalagens reutilizáveis, como as garrafas de vidro que se devolvem."
A solução para prevenir o aumento das ilhas de lixo é diminuir drasticamente a utilização dos plásticos, mas como se acaba com aquelas que já existem? "Sinceramente, não sei o que se poderá fazer. Tem de se arranjar um processo para recolher todo aquele lixo", diz a ambientalista que deixa o alerta: "Arriscamo-nos a ficar com o mar cheio de lixo."
Fonte: Diário de Notícias
domingo, 21 de março de 2010
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