sexta-feira, 25 de junho de 2010

Portugueses atrás dos burros selvagens da China

Partiram de Portugal para viajar quase cinco mil quilómetros, pelo coração da lendária Rota da Seda, em versão genética. Tinham em mira burros, marmotas e aves. Primeira de duas partes de uma expedição científica.

Pela mira telescópica, seis burros, alinhados lado a lado, cabeças levantadas, orelhas espetadas, olham na direcção de quem os olha ao longe.

“Eia, que espectáculo! Todos a olhar para cá”, diz Albano Beja Pereira.

“Oh, sim”, concorda Chen Shanyuan, quando chega a sua vez de espreitar pela mira, em cima de um tripé assente na areia.

“Posso ver?”, atira Nuno Monteiro.

Surgem umas orelhas com pontas pretas, crinas negras, cabeças e dorsos cremes, patas e ventres de um branco sujo, entre uma paisagem dominada pela areia pintalgada por vegetação rasteira, verde-escura.

O burro selvagem da Mongólia, o Equus hemionus hemionus, esquivo à presença humana, tem o estatuto de espécie ameaçada. Parente afastado dos burros domésticos, encontra-se em bolsas fragmentadas no Irão, Índia, Turquemenistão, Mongólia e Norte de Xinjiang, a região mais a ocidente da China.

E depois de Beja Pereira, Chen Shanyuan e Nuno Monteiro, também Ablimit Abdukadir se baixa para os contemplar pelo pequeno monóculo no tripé.

Continuam todos virados para cá, mas os quatro cientistas que os espiam conseguem manter-se incógnitos, a um quilómetro de distância, quais David Attenborough em plena expedição atrás dos burros selvagens da Ásia.

“Temos o vento contra nós, estamos na melhor situação possível”, diz Beja Pereira, 37 anos, zootécnico do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto, enquanto deixa para trás, junto aos dois jipes por que se reparte a expedição, os outros cientistas e toma a dianteira para se ir aproximando dos burros.

Vai a pé, meio agachado, com a mochila às costas. Avança pelas franjas do deserto de Gurbantünggüt, no Norte de Xinjiang.

É uma planura arenosa, mil metros acima do nível do mar, coberta aqui e ali por uma crosta de sal que estala mal se pisa. Nem um arbusto alto que faça de esconderijo e dê alguma sombra. Nem uma pinga de água, que ficou esquecida no jipe, para acalmar os efeitos dos 35 graus pelas três da tarde.

Nem a sensação de isolamento associada ao deserto. Avista-se uma estrada alcatroada, a mesma utilizada minutos antes pelos jipes da equipa, que continua a ser cruzada por um constante ir e vir de camiões (tem restaurantes na berma, num deles haveria mais tarde de se pedir uma sopa de cogumelos e tofu, mais a mosca que vinha a boiar). E há um cercado, com um portão fechado a cadeado, que um guia local abre para a equipa.

Os burros não correm em total liberdade pela planície do Gurbantünggüt, o segundo maior deserto da China, a seguir ao Taklamakan, no Sul de Xinjiang. O cercado, na Reserva Natural de Ungulados Selvagens de Karamaile, com 158 mil hectares, impede-os de ir para a estrada.

No seu encalço, logo depois de Beja Pereira, segue Nuno Monteiro, 36 anos, biólogo do Cibio e docente de Parasitologia na Universidade O investigador Beja Pereira recolhe excrementos para análise do ADN Fernando Pessoa, no Porto. E o chinês Chen Shanyuan (ou Jay, a alcunha inglesa que adoptou para os ocidentais), de 30 anos, a viver em Portugal há algum tempo como estudante de pós-graduação de Beja Pereira. Ainda na dianteira, olhos postos no chão, o zootécnico cedo se depara com um objecto, o primeiro de todos, muito desejado pela expedição.

“Tens aí luvas?”, pergunta-lhe, cá de trás, Nuno Monteiro.

“Tenho”, diz Beja Pereira.

O que eles viajaram até este momento chegar.

Para sul, 1500 quilómetros

Chegaram dez dias antes, a Ürümqi (lê-se algo como “Urumquexi”), a capital de Xinjiang, região onde a etnia uigur (muçulmana, de origem turca e minoritária na China) vive há mais de quatro mil anos e ainda é dominante entre os 20 milhões de habitantes. Esperava-os Ablimit Abdukadir, investigador do Instituto de Ecologia e Geografia de Xinjiang, membro do grupo de especialistas em felinos da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). É este uigur, 56 anos, que é o anfitrião de Beja Pereira, Nuno Monteiro e Chen Shanyuan – este da etnia han, que forma 91 por cento da população da China. Rota da Seda 2010 é o nome da expedição.

A capital fica apenas 400 quilómetros a sul da reserva natural de Karamaile. Mas, agora, os seus três milhões de pessoas, estradas largas, filas e mais filas de carros, arranha-céus no centro, triciclos, bicicletas, motorizadas eléctricas, bancas de fruta, de vegetais ou de comida na rua, lojas com cartazes gigantes em mandarim e uigur, um bazar internacional, mulheres com lenços na cabeça, enfim, a azáfama de uma qualquer grande cidade, a que não falta um restaurante da Kentucky Fried Chicken, parecem um mundo distante.

É que, até ao encontro com os burros selvagens da Mongólia, muitos foram os quilómetros de estrada, muitas as montanhas atravessadas, as horas no deserto, as sestas a que foi impossível resistir em longas rectas, as paragens em casas de banho improvisadas, muitos os solavancos.

Mais distantes ainda parecem os acontecimentos violentos que rebentaram a 5 de Julho do ano passado: durante alguns dias, as ruas de Ürümqi foram palco de confrontos entre uigures e chineses han, que resultaram oficialmente em 197 mortos e mais de mil feridos, no envio de milhares de soldados para manter a ordem e no corte dos telefones, Internet e e-mail, só há pouco tempo restabelecidos (em 1949, Xinjiang passou a ser controlada pela recém-proclamada República Popular da China, mas mantiveram-se os movimentos independentistas e de resistência uigur).

Logo à chegada, a expedição começou por arrancar em sentido oposto, para o Sul, portanto, rumo à Reserva Natural das Montanhas Arjin, a 1500 quilómetros de Ürümqi. Objectivo: ver outro burro selvagem da Ásia, o do Tibete, ou Equus kiang.

Se o virmos nas fotografias, o burro selvagem do Tibete tem a cabeça e o dorso mais castanhos e peludos do que o burro da Mongólia. É o maior dos burros selvagens da Ásia, e há um mistério em relação a ele. Existem três subespécies, uma delas nas Montanhas Arjin? Ou há apenas uma espécie, com variações ecológicas? “Ninguém sabe, é um quebra-cabeças”, diz Beja Pereira.

O facto de a Reserva Natural das Montanhas Arjin ser bastante fechada, em particular à entrada de estrangeiros, tem perpetuado este mistério. É para lá que a equipa se dirige primeiro.

Ürümqi-Korla, primeiro dia de viagem, com a passagem por um parque de geradores eólicos, quase sem fim, ainda às portas da capital e pela imensa cordilheira Tianshan, despida de árvores, em tons de castanho, creme e amarelo. Parece talhada à faca. Eis que, no meio de nada, ao fim de 550 quilómetros, surgem os arranha-céus de Korla, uma das cidades da célebre Rota da Seda, que durante séculos ligou a Ásia ao Mediterrâneo.

Korla-Qarqan, segundo dia, mais de 700 quilómetros, com travessia pela orla leste do deserto do Taklamakan em plena tempestade de areia. A realidade pelo vidro do jipe apresenta-se esbranquiçada e limitada a poucos metros, como se um nevoeiro se tivesse abatido na auto-estrada, e os grãos finíssimos entranham-se pelo nariz. Durante séculos, a Rota da Seda contornava o Taklamakan, a norte e a sul, convergindo na cidade-oásis de Kashgar. Então o deserto engolia quem se atrevesse a desafiá-lo, agora as suas reservas importantes de petróleo originaram a construção de auto-estradas que o cruzam sem temor.

Nem um vislumbre dos camelos selvagens de duas bossas, cada vez mais raros, criticamente ameaçados, que ainda vivem no Taklamakan, antepassados dos camelos domésticos com o mesmo número de bossas, e que a Sociedade Zoológica de Londres inclui entre os dez mamíferos mais raros do planeta (existirão menos de mil na China e na Mongólia).

E o terceiro dia, passado em Qarqan, cidade plana, 800 metros acima do nível do mar, outra importante passagem ao longo da Rota da Seda, foi para tratar da logística para a subida a quase quatro mil metros de altitude. Compraram-se agasalhos numa loja de material militar: casacos compridos verdes, gorros, luvas. Entre brincadeiras, Beja Pereira e Nuno Monteiro improvisaram poses militares, esticando os ombros e pescoços com ar imponente, que um capacete na loja atulhada ajudou a compor. Arranjam-se sacos de oxigénio, caso alguém se sinta mal nas alturas das Montanhas Arjin.

Há passeios pelo bazar, com as suas bancas de vegetais, sacos de arroz, carne pendurada ao ar livre, restos de uma vaca no chão, pães nan tendidos com a forma de pizzas e colados nas paredes do forno que os coze ali mesmo, ou roupas, tudo a três passos de uma das poucas mesquitas que se encontraram pelo caminho. Sorriem-nos, querem saber de onde vêm os estranhos. As mulheres, pintadas, de saltos altos, exibem os seus lenços garridos, a maior parte mantendo a cara destapada. Os homens optam quase sempre por cobrir a cabeça, ou com bonés ou chapéus de feltro ou os tradicionais chapéus muçulmanos bordados.

Há tempo para provar kebabs (espetadas de borrego) e o pollo (prato de arroz com pedaços de cenoura e um naco de borrego em cima), acompanhados pelo chá omnipresente a cada refeição.

O guardião da reserva

Qarqan-Montanhas Arjin, quarto dia de viagem, com um novo guia nesta etapa da expedição, o uigur Tursunjan Yakub, guarda-florestal do Departamento de Florestas de Qarqan. Sem se dar por isso, a altitude vai aumentando – até que a planície de areia e pedras, cortada por uma estrada em tal estado que tudo tremelica, começa a ceder lugar à montanha.

Um rio teima em ser presença constante, atravessado vezes sem conta nas curvas e contracurvas montanha acima; a três mil metros é altura de uma paragem.

De um lado, tem-se a visão panorâmica das encostas Arjin acabadas de subir, rocha e terra apenas, feridas pela erosão, e do pastor com quem nos cruzámos e que aí vem, montado no seu burro doméstico, um ponto minúsculo visto daqui. Olhando para o caminho a seguir, erguem-se ao fundo os picos com neve da Montanha de Kunlun, parte do sistema montanhoso dos Himalaias, na fronteira entre Xinjiang e o Tibete.

Segue-se um planalto. Casas de pastores, rebanhos de ovelhas, cavalos e camelos domésticos dispersam-se aqui e ali. Por fim, a chegada a uma estação de gestão da vida selvagem. Passaram seis horas desde a partida de Qarqan, viajaram-se apenas uns 200 quilómetros.

A estação fica num terreiro ventoso e frio, a cerca de 3600 metros de altitude. Há casas de tijolo, há um entreposto comercial, há gente ora sentada à porta, ora de um lado para o outro, ora a carregar mercadorias. “Nesta montanha, e à volta, vivem 500 pastores. São nómadas”, explica Ablimit Abdukadir. “Se precisam de sal, cigarros, combustíveis, fazem as compras aqui.”

No entreposto, há uma sala com dois telefones fixos muito requisitados, sofás velhos, caixas de soro injectável, que dá para uma sala de estar, cheia de gente a entrar e sair, com tapetes nas paredes, um televisor e um reconfortante fogão a carvão. O casal uigur que gere o entreposto recebe os visitantes com pães nan e chá, e logo a expedição volta à estrada, com a intenção de acampar mais acima.

É apenas preciso transpor uma cancela, uns metros à frente, que aguarda quem quer entrar na reserva natural. Numa tenda ao lado, um jovem chinês han, o guardião da reserva, quer ver, na autorização escrita dos trabalhos científicos da equipa para a região de Xinjiang, a referência específica às Montanhas Arjin. Como se as Arjin não fossem em Xinjiang. Ou, então, os estrangeiros teriam de pagar quatro mil euros.

Não consta tal referência na autorização, e nem Ablimit Abdukadir nem Chen Shanyuan conseguem demover o guardião da reserva. Numa última tentativa, de volta ao entreposto, um telefonema para um dos responsáveis da área protegida também não surte efeito.

O mistério dos burros selvagens nas Arjin, onde os cientistas estrangeiros não entram desde os anos 80, até porque a espécie está associada ao vizinho Tibete, uma zona politicamente conturbada, vai portanto manter-se para já.

Foram 1500 quilómetros desde Ürümqi, iria iniciar-se o caminho de volta, ao cair da tarde. O saco-cama, que preenche um quarto da mala de viagem, afinal não serviu para nada.

Era melhor nem pensar nos abanões no jipe até Qarqan, onde se chegaria à uma da manhã. Nem nos quilómetros até à capital (com um desvio de uns dias para procurar uma certa marmota e a ave que com ela partilha a toca, no planalto de pradarias de Bayanbulak, que ficam para a segunda parte do relato desta expedição). Atravessa-se de novo o Taklamakan, mas pelo centro, e a cordilheira Tianshan. De Ürümqi, a viagem continua para o Norte – em busca dos burros da Mongólia, e a visão, à segunda saída da capital, é a de uma sucessão de centrais térmicas e de refinarias de petróleo e gás natural, recursos em que Xinjiang é rica.

“Estou desiludido”, deixa escapar Ablimit Abdukadir. “Em ciência há sempre um risco”, responde-lhe Beja Pereira.

ADN a quanto obrigas

Voltemos então ao momento em que Beja Pereira e os companheiros andam atrás dos burros da Mongólia – os primeiros que finalmente vêem – e estão prestes a obter o que tanto ambicionam. Excrementos.

Caminhando pelo deserto, os animais juntam-se, começam a afastar-se e desaparecem. “Não dá para nos aproximarmos com tanta gente.”

Pelo terreno, Beja Pereira esborracha este e aquele dejecto com o pé, avaliando a sua frescura: “O que é que mais estraga o ADN? Os ultravioletas”, explica.

“Nuno, aqui está fresco”, avisa.

Através do ADN nos excrementos, Beja Pereira quer inferir o tamanho efectivo das populações de burros selvagens asiáticos – ou seja, o número de genomas únicos que se transmitem à descendência. Dois burros gémeos, por exemplo, contam como um só. Sem ter de os contar, e por meio de um método não invasivo, quer avaliar a consanguinidade dos animais e ver se todos têm igual oportunidade de se reproduzir. Quanto mais elevada for a consanguinidade, menor é a taxa de fertilidade e a viabilidade de uma população e, no final, da própria espécie. Uma auto-estrada que fragmente uma manada, deixando poucos machos de um dos lados, por exemplo, aumenta a endogamia: “Do ponto de vista do ADN, conseguimos ver se há um grupo à parte.”

Beja Pereira, que é membro do grupo de especialistas em equídeos da IUCN, tem estado a fazer este tipo de estudos para os burros selvagens africanos, criticamente ameaçados, mas faltava-lhe um termo de comparação com espécies próximas. Aliás, os burros selvagens de África (Equus africanus) valeram-lhe uma descoberta, com direito a um artigo na revista Science em 2004: anunciou que foram estes burros, e não as espécies asiáticas, a ser domesticados, há cinco ou seis mil anos. Foi o que revelaram as análises de ADN de burros selvagens africanos e de burros domésticos de 52 países, da Europa, África e Ásia.

Os antepassados de todos os burros domésticos são assim os burros selvagens de África, mais concretamente duas subespécies (o burro da Núbia, região no vale do Nilo, partilhada entre o Egipto e o Sudão, e o burro da Somália). De fora da domesticação ficaram os burros selvagens da Ásia, de que a espécie da Mongólia e a do Tibete são exemplos.

Nuno Monteiro quer saber quais são os parasitas e as bactérias presentes em espécies de zonas remotas como Xinjiang. “Apesar de ter havido uma ‘febre’ de explorar nichos novos, à procura de resistências a antibióticos e a antiparasitários em zonas mais remotas, ainda não se sabe muito sobre espécies emblemáticas como os burros e camelos”, explica Nuno Monteiro.

“Era aqui que eles estavam”, aponta Beja Pereira para o terreno espezinhado. “Este é mesmo, mesmo fresco.”

Como bolinhos, os cientistas embrulham as amostras em papel de alumínio ou guardam-nas em tubinhos, que transportam nos bolsos e mãos enquanto cirandam por ali. Mas eles querem mais excrementos e no dia seguinte, o 11.º da expedição, vão procurar outros burros, mais a norte na Karamaile. Seguindo as indicações de outro responsável da reserva, deixam a concorrida estrada alcatrão e metem-se por caminhos de terra. Com tantos furos de petróleo pela planície e minas de carvão mineral a céu aberto, andarão os burros por aqui?

Perde-se a vista neste mar de verde rasteiro e castanho, aos tombos nos jipes. Olha-se, pára-se, Beja Pereira esquadrinha a paisagem com os binóculos. Nada, apenas os vestígios que deixaram, pegadas e cocós, em redor de um charco.

O silêncio é absoluto, entrecortado por uma ave distante e um telemóvel que toca. “Oláaa. Ah pois éee, hoje é o Dia da Criança”, ouve-se Beja Pereira.

Quatro horas atrás dos burros, a tarde toda, mas nem vê-los. Para a manhã seguinte fica a derradeira tentativa, mais perto do local onde se viram os primeiros burros. Os contactos locais de Ablimit Abdukadir dizem que andava por ali uma manada. Será que é desta?

Pelo fresco da manhã, ainda da estrada de alcatrão, vislumbra-se um burro solitário, um macho, ao fim de mais de 4500 quilómetros por Xinjiang (região que representa um sexto do território da China) e de tantas massas chinesas picantes às refeições, pequeno-almoço incluído. Um prenúncio de sucesso? “Pode estar doente, ser velho ou recém-chegado à manada”, explica Beja Pereira.

Menos de meia hora de balanços pelo terreno irregular e os jipes param perto de um montículo de terra, de onde a paisagem repetitiva é perscrutada. Beja Pereira monta o tripé com a mira telescópica, Nuno Monteiro saca dos binóculos.

“Estou vendo!”, diz Beja Pereira. “Um, dois, três, quatro... vejo cinco.”

Põe-se a caminho, em passo apressado. Os pés enfiam-se na terra. Os outros ficam no monte para lhe irem apontando a direcção dos burros, a dois quilómetros de distância, que se confundem com o terreno.

“É realmente fresco”, diz dos excrementos que encontra, enquanto calça as luvas.

Os burros, e afinal são muitos mais, entram por fim no campo de visão. “Estão a comer.”

Curvado, vai até outro montículo com arbustos, uns metros à frente, de onde observa e filma. “São 37.”

O resto da equipa aproxima-se a pé. “Shhhh.”

Agachados à vez, vão atrás de Beja Pereira, de monte em monte de terra. “Não nos podemos mexer agora, estão todos a olhar para cá.”

É realmente um bom dia, resume Chen Shanyuan. “Quantos machos adultos há?”, sussurra Beja Pereira para Ablimit Abdukadir. “Talvez oito.”

Quando os burros se apercebem, a cerca de 200 metros, afastam-se e mantêm sempre uma distância de segurança. Agora que foram vistos, os cientistas saem de trás dos montes de terra. Já podem vasculhar o chão à vontade. “Onde virem moscas...”

Fonte: Publico.pt

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