terça-feira, 14 de abril de 2009

Cabras serranas procuram subscritores para ajudarem a Gralha-de-bico-vermelho

O sociólogo francês Jean-Louis Laville foi o primeiro subscritor dum rebanho comunitário à escala global - 300 cabras serranas que terão a responsabilidade de tirar a gralha-de-bico-vermelho do grupo de aves em vias de extinção.
As primeiras cabras (cerca de 60) chegaram a Chãos, uma aldeia da freguesia de Alcobertas (Rio Maior), em plena Serra dos Candeeiros, há uma semana.

O rebanho nasce de um projecto da associação ambientalista Quercus que escolheu a Cooperativa Terra Chã como parceira, e que tem a Vodafone como patrocinadora.

Com o fim do pastoreio - na aldeia já só resta um pastor e mesmo este já só sobe à serra quando é convidado pela Cooperativa a fazer a Rota dos Pastores, uma das muitas iniciativas da Terra Chã -, geraram-se alterações na biodiversidade a ponto de quase levar à extinção da gralha-de-bico-vermelho.

As cabras serranas, "tipo ribatejano", que a Terra Chã vai reintroduzir numa área de 200 hectares da Serra dos Candeeiros, em pleno Parque Natural das Serras d`Aire e Candeeiros, são uma esperança para o retomar do equilíbrio daquele habitat.

É que a gralha-de-bico-vermelho é uma ave insectívora muito dependente de ecossistemas agro-pastoris extensivos criados pelo homem.

O que este rebanho tem de "especial" é que qualquer pessoa em qualquer parte do Mundo pode comprar uma cabra (100 euros) - o nome do proprietário fica inscrito numa "medalha" colocada no animal -, recebendo em troca, durante cinco anos, o convite para, uma vez por ano, participar no passeio pedestre Rota dos Pastores e tomar contacto com a evolução do rebanho e a avaliação do seu contributo para a preservação da gralha-de-bico-vermelho e do seu habitat.

No fim, ficam com um certificado em como participaram na preservação desta espécie.

"O primeiro subscritor foi o professor Laville, que visitou a aldeia em Fevereiro no âmbito de um trabalho sobre Economia Social e que fez questão de deixar os 100 euros ao professor Roque Amaro" (do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, que tem estudado o trabalho da Cooperativa Terra Chã), disse António Frazão à agência Lusa.

António Frazão e Júlio Ricardo são a "alma" da Terra Chã, cooperativa que nasceu na continuação do trabalho iniciado em 1985 com o Rancho Folclórico de Chãos, e que é considerada por Jean-Louis Laville um exemplo que "impressiona" pela "durabilidade do edifício económico, social, cultural e ambiental que se constrói pedra após pedra há mais de 20 anos" e pela forma "como se integra na vida local".

O impacto do rebanho - para o qual a cooperativa procura um pastor "qualificado" - vai ser alvo de uma avaliação contínua, dependendo a evolução da sua dimensão (que poderá chegar a um máximo de 300 cabras) da monitorização que for sendo feita de dois em dois anos, frisou António Frazão.

Para já, as cabras, ainda muito jovens, estão em instalações provisórias, na aldeia. Quando forem adultas, a Cooperativa espera ter já pronta a sala de ordenha com todas as condições higieno-sanitárias, e que irá permitir a criação de pelo menos mais um posto de trabalho.

Serão mais dois postos de trabalho a juntar aos seis permanentes que a Terra Chã já assegura na aldeia, onde tem a funcionar um restaurante, um centro de alojamento, um centro de artes e ofícios tradicionais e um centro de formação.

Fonte: LUSA

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