terça-feira, 14 de abril de 2009

Duas novas espécies de insectos no PNSAC

No final de 2006 início de 2007, foram descobertas duas novas espécies de insectos no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Trata-se de escaravelhos cavernícolas, ou seja que habitam em cavidades e grutas, no Maciço Calcário Estremenho, sendo espécies novas para a Ciência.
Esta descoberta é tanto mais significativa se pensarmos que, em Portugal continental, apenas se conheciam dois exemplares de uma única espécie de escaravelho cavernícola – a Trechus machadoi.

Estas espécies foram descobertas pela bióloga Ana Sofia Reboleira, durante uma investigação desenvolvida no PNSAC, no âmbito do seu mestrado, intitulado “Os Coleópteros (Insecta, Coleoptera) cavernícolas do maciço calcário Estremenho: uma abordagem à sua biodiversidade”. Este trabalho contou com o apoio logístico do PNSAC/ICNB, sendo a orientação científica dos docentes Fernando Gonçalves (Dep. de Biologia da Univ. de Aveiro) e Artur Serrano (Faculdade de Ciências da Univ. de Lisboa).

Os exemplares das duas espécies de escaravelhos (Coleópteros da família Carabidae) encontrados e descritos, pertencem também ao género Trechus.

As espécies agora descobertas possuem algumas características interessantes:

- são hipógeas, ou seja que vivem debaixo de terra. A palavra deriva de “hipo” – “debaixo de” + geo – “terra”) ou troglóbios – nome dado aos seres que habitam em zonas profundas e subterrâneas. O termo deriva do grego “trogle” que significa caverna, cavidade + “bios” – vida;

- ocupam as partes profundas das cavidades do maciço calcário estremenho;

- todo o seu ciclo de vida decorre no interior das cavidades;

- são microendémicas, ou seja têm uma distribuição muitíssimo reduzida, existindo apenas em pequenas zonas; e

- as suas populações têm um reduzido número de indivíduos, o que dificulta bastante a sua visualização.

Sendo insectos que existem apenas em grutas e cavernas (i. e. em habitat cavernícola), apresentam, por isso, adaptações ao meio subterrâneo, tais como:

- despigmentação - falta de pigmento, uma vez que não precisam de se proteger dos raios solares;

- estruturas oculares reduzidas – atendendo a que não há luz nas cavidades a visão passa a ser pouco importante; e

- grande sensibilidade às alterações do meio.

Cada uma das três espécies de coleópteros cavernícolas, actualmente conhecidas em Portugal continental, ocupa uma subunidade distinta do maciço calcário estremenho.

Estas zonas cársicas, em que a água é quase rara à superfície mas onde existem lençóis de água subterrâneos e toda uma rede de cavidades, são muito vulneráveis a problemas ambientais, de que são exemplo a poluição das águas subterrâneas devido a substâncias que se infiltram através dos calcários, a exploração de inertes (ex. pedra) e a construção. Note-se que um curso de água subterrâneo demora muito mais tempo a recuperar de um episódio de poluição do que um rio à superfície.

Assim, para se manter a qualidade daquele que será um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce existentes em Portugal e para que se possam conhecer estas, e outras espécies ainda por descobrir e que habitam nas zonas mais recônditas do PNSAC, torna-se necessário proteger as áreas de drenagem dos habitats que albergam estas espécies microendémicas, caso contrário, corre-se o risco de elas se extinguirem ainda antes de serem conhecidas.

Fonte: ICNB

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