A educação ambiental e a educação para o desenvolvimento sustentável nas escolas portuguesas é limitada, demasiado infantil e, ironicamente, insustentável. Este é o retrato crítico que resulta de um inquérito a 15.000 escolas e 2300 organizações não-escolares, cujos resultados estão num livro a apresentar hoje em Lisboa.
Cerca de metade das escolas e 30 por cento das outras organizações responderam ao inquérito, realizado entre 2005 e 2007. O resultado aponta para o papel preponderante das câmaras municipais entre as entidades que promovem a educação ambiental nas escolas: 58 por cento dos projectos são de autarquias. A esta quota somam-se ainda os projectos com empresas municipais.
A consequência é a limitação dos temas às questões dos resíduos, flora e fauna. Muitos estão directamente relacionados com as empresas patrocinadoras. "Esta prevalência de temas, patrocinadores e parceiros acaba por tornar a educação ambiental e a educação para o desenvolvimento sustentável demasiado instrumental", concluem os sociólogos Luísa Schmidt, Joaquim Nave e João Guerra em Educação Ambiental-Balanço e Perspectivas para Uma Agenda Mais Sustentável - o livro será apresentado numa conferência sobre o tema, no Instituto de Ciências Sociais.
Neste sentido, as actividades estão "a negligenciar o que se passa no "mundo real". A vertente do desenvolvimento sustentável deveria ser reforçada com ligações à economia e cidadania. As escolas deveriam ser "exemplo vivo" da sustentabilidade. Segundo o inquérito, os projectos são maioritariamente dirigidos apenas aos alunos, com pouco envolvimento da escola ou da comunidade onde se insere. Só nove por cento dos projectos desenvolvidos por organizações externas e 17 por cento dos realizados pelas próprias escolas se destinavam à comunidade educativa em geral.
O livro fala da "infantilização" da educação ambiental: 44 por cento dos projectos das escolas destinam-se a alunos do 1º ciclo, sobretudo em actividades recreativas e lúdicas. Só 12 por cento envolvem o secundário.
Para Luísa Schmidt, os projectos deveriam envolver mais os adolescentes e colocar os alunos a avaliar a realidade ambiental e de desenvolvimento sustentável na sua área, através da recolha de dados que pudessem ser validados e trabalhados depois por universidades. "No fundo, seria uma ciência participativa", afirma.
Os projectos também deveriam durar mais tempo: metade tinha a duração de apenas um ano lectivo, 11 por cento nem a isso chegava, embora 37 por cento ultrapassassem aquele limite. Conclusão: há uma "notória insustentabilidade das actividades de educação ambiental e educação para o desenvolvimento sustentável".
Fonte: Publico.pt
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