Setenta voluntários aceitaram o desafio e vão mapear a distribuição das 25 espécies de morcegos do país, procurando estes animais em grutas, árvores ou mesmo dentro de caixas de estores ou em sótãos. Dentro de dois anos e meio, ficará pronto o primeiro Atlas dos morcegos de Portugal continental.
“Temos informação muito detalhada e completa das espécies cavernícolas, mas não de muitas outras, como as arborícolas e as ubíquas (as que vivem dentro de caixas de estores ou em sótãos)”, explicou hoje Ana Rainho, bióloga do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
A construção do Atlas dos Morcegos de Portugal pretende “criar um mapa da distribuição de cada espécie”, disse ao PÚBLICO. Os responsáveis querem estudar todas as colónias cavernícolas (não só as mais ameaçadas, como acontece de momento) e recolher dados sobre as espécies que não têm informação suficiente para serem classificadas.
Os 70 voluntários já receberam formação sobre como identificar morcegos pela sua morfologia e acústica. Agora, preparam-se para começar a trabalhar. “Serão dois anos de trabalho de campo. Em 2013 deveremos estar a editar o documento final” que funcionará como “uma fotografia das populações de morcegos num dado período, que possa vir a ser comparado com outros no futuro”, explicou a investigadora e coordenadora do projecto.
A iniciativa ambiciona ainda reunir as pessoas que já trabalham com morcegos, especialmente nas empresas de estudos de impactos ambientais, mas também aquelas que apenas gostam destes animais.
Ana Rainho identifica uma mudança de atitude das populações em relação aos morcegos. “Quando comecei a trabalhar havia muitas situações negativas, de colónias arrasadas, morcegos queimados com maçaricos e pneus a arder nas grutas para eles saírem”, lembra. “Agora recebo mais histórias positivas, de pessoas a ligar para dizer que encontraram um morcego caído nas escadas, que o puseram numa caixinha e lhe deram água”.
A investigadora salientou que os morcegos são “úteis para o homem, especialmente no controlo de pragas”. Normalmente, “um indivíduo come mais de metade do seu peso em insectos numa noite, o que se considerarmos uma colónia com milhares de indivíduos dá milhões de insectos”.
Actualmente existem em Portugal continental 25 espécies de morcegos, três das quais em perigo de extinção (Morcego-de-ferradura-mediterrânico, o Morcego-de-ferradura-mourisco e o Morcego-rato-pequeno). A maior colónia identificada no país, em São Mamede, é de morcego-peluche e terá vinte mil indivíduos.
A construção do atlas acontece durante o Ano do Morcego 2011-2012, lançado oficialmente a 2 de Março numa gruta do Alviela. A iniciativa – do Programa das Nações Unidas para o Ambiente e do Acordo sobre a Conservação dos Morcegos Europeus – deverá mostrar “como são fantásticos” os morcegos, principalmente, às “pessoas que nunca os viram ou se viram que pensam que são todos iguais”, disse, então, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa.
A comunidade científica mundial conhece actualmente 1200 espécies de morcegos – que totalizam cerca de um quinto de todos os mamíferos -, metade das quais está ameaçada de extinção.
Fonte: Helena Geraldes/Público
Foto: Enric Vives-Rubio/arquivo
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