quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Área Protegida Local no Barreiro, Mata da Machada e Sapal do Rio Coina


   Henrique Pereira dos Santos considera que Mata da Machada e Sapal do Rio Coina
Contribuem para a definição de uma imagem mais justa do que é o Barreiro
   Henrique Pereira dos Santos, Arquitecto, tem uma carreira profissional essencialmente ligada ao ordenamento e gestão em áreas de conservação da natureza.
Em entrevista ao «Rostos» sublinha que a classificação da Mata da Machada e Sapal do Rio Coina, como área Protegida local, significa – “reconhecer-se e comunicar-se os valores naturais que o Barreiro contém”, e , tal contribui, para mudar a imagem do Barreiro, “de centro de indústria pesada com má qualidade de vida”, portanto, - “tornando mais apetecível o Barreiro e ajudando na definição de uma imagem mais justa do que é o Barreiro.”
Henrique Pereira dos Santos, trabalhou no Parque Natural de Montezinho, no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e nos serviços centrais do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Na Conferência Áreas Protegidas Locais, onde vai estar em reflexão a classificação da Mata da Machada e Sapal do Rio Coina, como Área Protegida Local, é um dos oradores convidados.
Colocámos Henrique Pereira dos Santos algumas perguntas que prontamente nos respondeu.

Instrumentos de conservação de recursos escassos

Qual a importância de existirem áreas de protecção local?
“As áreas protegidas, todas elas, são importantes por serem instrumentos de conservação de recursos escassos, mas são importantes por serem também instrumentos de comunicação e partilha entre as comunidades. As áreas protegidas locais têm a grande virtude de mostrar como as comunidades locais são capazes de reconhecer os valores de que são guardiãs e, ao mesmo tempo, de agir para os conservar e os valorizar.”

Barreiro reconhece estes dois espaços como espaços excepcionais

Que significado atribui à classificação da Mata da Machada e Sapal de Coina como área protegida local?
“A classificação destas áreas vem em primeiro lugar reconhecer património, isto é, deixa claro que as pessoas do Barreiro reconhecem estes dois espaços como espaços excepcionais. Em segundo lugar permitem que as pessoas do Barreiro digam de forma muito clara que estão dispostas a tomar em mãos a conservação desses valores, a sua valorização e, não menos importante, a sua disponibilização ao público. Ao classificar estas áreas chama-se a atenção para os valores que elas contêm (tanto natural como cultural) e assume-se a responsabilidade por os transmitir, em boas condições, aos que virão depois de nós.”

Valorização do património cultural e natural

Que contributo pode dar no futuro esta área para o desenvolvimento do Barreiro e região de Setúbal?
“No caso concreto do Barreiro a classificação destas duas áreas têm um efeito específico: no contexto de alteração económica associado que se verifica na margem Sul do Tejo, o Barreiro apresenta-se não como um território e uma comunidade industrial decadente, mas como um território e uma comunidade que sabe gerir essa transição e não descura, nesse processo, a valorização do seu património cultural e natural. Para a grande maioria dos portugueses o Barreiro não é um destino prioritário de visita nem a primeira hipótese para escolher um sítio para viver na área da Grande Lisboa, em parte porque a imagem que guardam do Barreiro é uma imagem de centro de indústria pesada com má qualidade de vida. Não sendo esta imagem verdadeira, reconhecer-se e comunicar-se os valores naturais que o Barreiro contém contribui, estou convencido, para mudar esta ideia e tornando mais apetecível o Barreiro e ajudando na definição de uma imagem mais justa do que é o Barreiro.”

Consciência das diferentes opções que se colocam à comunidade

Pode o debate em torno da classificação de uma área protegida local contribuir para uma maior consciência ecológica da comunidade?

“Sem a menor dúvida, contribui antes de mais nada para que as pessoas se interroguem sobre os valores que as rodeiam e a sua responsabilidade na sua gestão e conservação. Se a criação da área protegida se limitar a ser uma decisão administrativa isso tem ainda assim algumas virtudes mas tem o problema de a posicionar como uma coisa de outros, mas se se investir no debate sobre as razões, os limites, o conteúdo, o modelo de gestão da futura área protegida, se se procurar sistematicamente a integração das pessoas no processo e na sua futura gestão, é uma inevitabilidade que, sendo contra ou a favor da criação da área protegida, todos terão maior consciência das razões e implicações das diferentes opções que se colocam à comunidade do Barreiro na gestão do seu território.”

Nota Biográfica
Henrique Pereira dos Santos

Henrique de Menezes de Almeida Pereira dos Santos, nascido em 11 de Junho de 1960, em Huambo, Angola, casado e pai de quatro filhos, licenciou-se em Arquitectura Paisagista em 1983, em Évora.
Com uma carreira profissional essencialmente ligada ao ordenamento e gestão em áreas de conservação da natureza, trabalhou no Parque Natural de Montezinho, no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e nos serviços centrais do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Coordenou vários planos de ordenamento e gestão de algumas das áreas protegidas em Portugal, bem como a instalação do Parque Natural do Douro Internacional, trabalhou na avaliação de impacte ambiental, na visitação e turismo associado a áreas protegidas e na comunicação associada à gestão de áreas protegidas e da biodiversidade.
Esteve envolvido na coordenação do Plano Sectorial da Rede Natura 2000, bem como na preparação do novo regime jurídico da conservação e foi responsável operacional pela iniciativa Business and Biodiversity em Portugal.
Foi dirigente do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade vários anos, tendo ocupado o cargo de Vice-Presidente.
É actualmente consultor independente na área da gestão da biodiversidade.
Publicou os livros “Do tempo e da paisagem” e “O gosto de Sicó”.
Fonte: Rostos

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