segunda-feira, 2 de março de 2009

Desaparecimento da selva da Samatra relança luta entre tigre e homem

O desaparecimento progressivo da selva em Samatra, uma ilha do oeste da Indonésia, relançou a velha luta do tigre com o homem, particularmente com os lenhadores e agricultores que destroem a floresta.

Desde o final de Janeiro que morreram oito pessoas e seis tigres de Sumatra, uma subespécie em perigo de extinção, numa sucessão de encontros furtivos e violentos.

"Estes confrontos estão a aumentar conforme se desenvolve o desaparecimento do habitat do tigre", conta o presidente do Fórum para a Conservação do Tigre de Samatra (Harimaukita), Hariyo Wibisono.

O último encontro mortal teve lugar no passado fim-de-semana quando dois irmãos, lenhadores ilegais, foram atacados por um tigre numa selva na região sul da província de Samatra.

Para Hariyo Wibison, a principal causa do ressurgimento dos ataques é a "invasão humana, maciça, no habitat" do tigre, principalmente para plantar óleo de palma, um componente dos combustíveis biológicos do qual a Indonésia é exportador principal.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) avalia a percentagem de desaparecimento anual do habitat destes animais em entre 3,2 e 5,9 por cento, e acrescenta que já só existem 500 exemplares.

O presidente do Harimaukita assinala que a "exploração dos recursos naturais", por parte do homem, diminui a caça natural do tigre e força-o a buscar alimentos fora do seu circuito habitual.

Acrescenta que outro factor a ter em conta é o comércio ilegal que abastece o mercado negro na Ásia, onde as peles, os dentes e os ossos de tigres e outros animais são altamente apreciados pela sua beleza e presumido valor esotérico.

A luta entre o tigre e o homem não é única, tendo em conta que outras espécies como os orangotangos, elefantes, ursos e rinocerontes respondem com violência ao assédio humano em Samatra.

Com uma certa frequência podem ser vistos elefantes, desorientados pela destruição do seu ambiente, a entrar em comunidades rurais e a provocar graves danos materiais, inclusivamente mortes.

As autoridades adoptaram, como medida de prevenção, o destacamento de brigadas de Vigilantes da Natureza e activistas nas zonas de conflito, para interferir em possíveis incidentes e defender uns dos outros.

Alguns grupos de ecologistas exigem o estabelecimento de novas leis que regularizem as zonas em conflito e castiguem a devastação e a caça ilegal.

A Indonésia teve a maior taxa de desflorestação do mundo entre 2000 e 2006, com 1,1 milhões de hectares de selva perdidos por ano (cerca de 125 campos de futebol por hora), embora o ritmo tenha abrandado desde então.

"Após estas mortes, o governo tem de fazer da segurança a sua prioridade e combater a desflorestação ilegal na Samatra", diz Ian Kosasih, director do programa florestal na Indonésia do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Os ecologistas previnem que, se a situação não mudar, as mortes continuarão e o tigre da Samatra seguirá os passos dos tigres de Java e Bali e tornar-se-á no primeiro felino a desaparecer no século XXI.

"Estima-se que os tigres da Samatra são entre os 400 e 500 e não é preciso um matemático para se perceber que acontecerá o mesmo que em Bali ou Java se a caça furtiva e o comércio ilegal continuarem", diz Júlia Ng, da organização Traffic.

A Traffic, uma organização que monitoriza a vida selvagem, foi fundada em 1976 e é líder no campo da conservação no que diz respeito à vida selvagem.

Fonte: Lusa

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