Conter a população mundial pode ser tão eficaz no combate às alterações climáticas como construir milhões de aerogeradores para a produção de electricidade a partir do vento, defende o Fundo das Nações Unidas para a População.
“Reduzir o aumento da população ajudaria a aumentar a resiliência da sociedade às alterações climáticas e a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa no futuro”, diz a organização, num comunicado sobre o relatório Estado da População Mundial 2009, hoje divulgado.
O relatório aborda especificamente as relações entre a população e as alterações climáticas, com ênfase particular sobre as mulheres. “É verdadeiramente a primeira vez que uma agência das Nações Unidas se debruça sobre os laços entre população e mudança climática”, disse à agência noticiosa AFP Bob Engelman, um dos autores do estudo e vice-presidente do Worldwatch Institute, organização não governamental com sede em Washington.
O documento sustenta que se a população crescer até oito mil milhões de pessoas até 2050 – e não nove mil milhões, que é a projecção média das Nações Unidas – seriam evitadas emissões de gases com efeito de esfufa equivalentes a um a dois mil milhões de toneladas de dióxido de carbono. O mesmo efeito poderia ser conseguido, por exemplo, se fossem instalados dois milhões de aergeradores com um megawatt de potência – o que equivale a multiplicar por 17 a capacidade mundial actualmente instalada em energia eólica.
O relatório chama a atenção para os movimentos migratórios que as alterações climáticas podem provocar, à medida que populações vulneráveis deixem zonas inundáveis, áridas ou inóspitas. Cerca de 200 milhões de pessoas poderão passar à condição de refugiados climáticos até 2050.
As mulheres estão também no centro da análise do Fundo das Nações Unidas para a População. “As mulheres, em particular nos países mais pobres, serão afectadas de forma diferente dos homens”, diz a organização. O relatório considera que as mulheres asseguram 60 a 80 por cento da produção de alimentos nos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, tendem a ter a família e a habitação ao seu cargo, o que limita a sua mobilidade, tornando-as mais vulneráveis a extremos climáticos.
“A conexão próxima entre género, produção alimentar e alterações climáticas merece muito mais atenção do que a que actualmente recebe”, diz o fundo da ONU.
Os acordos internacionais sobre o clima teriam melhor hipótese de resultar se tivessem em conta “a dinâmica da população, as relações entre os sexos e o bem-estar das mulheres", diz o trabalho, publicado 20 dias antes da cimeira sobre o clima que as Nações Unidas realizam em Copenhaga.
O relatório recorda que a transição para uma curva demográfica mais branda depende da promoção da igualdade de géneros e de maior acesso das mulheres à educação e saúde reprodutiva.
Fonte: Publico.pt Foto: Rafiquir Rahman/Reuters
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