terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Arquitectura urbana, verdadeira armadilha para algumas espécies de morcegos

São várias as vezes que os Vigilantes da Natureza do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros afectos ao programa “Coabitação e exclusão de morcegos” (ver aqui) são chamados a intervir perante a solicitação de particulares.

Hoje foi mais um dia em que foram contactados para recolher um morcego que já há 2 dias teimava em não sair de uma varanda de um apartamento em Santarém e cuja residente tinha pavor do animal, embora tivesse consciência de se tratar de espécie protegida e querer ajudar com a melhor boa vontade. Dizia-nos que o animal não conseguia voar e que deveria estar ferido ou debilitado.

Quando nos deslocamos ao local, deparámos com uma varanda de 1m de largura (com parede em volta com mais de 1m de altura) forrada a mosaico vidrado e com um aparelho de ar condicionado colocado junto a um dos extremos. Entre o dito aparelho e a parede (sem qualquer aderência), existia uma fresta de cerca de 2 cm.

Tratava-se de um morcego-rabudo (Tadarida teniotis), uma das espécies de morcegos maiores da Europa, que decerto achou confortável o abrigo proporcionado pelo espaço ente o dito aparelho de ar condicionado e a parede. O grande problema que encontrou foi quando pretendeu sair. Sem aderência para conseguir subir em qualquer parede, sem aderência e espaço suficiente no chão da dita varanda, bem como a elevação e estanquicidade das paredes, tentava em vão levantar voo sem qualquer sucesso, tal como uma pessoa a tentar subir um pau de sebo extremamente engordurado.

De facto, ao nos depararmos com a situação, percebemos que alguns detalhes da arquitectura urbana são de facto autênticas armadilhas para algumas espécies de morcegos. Entram, mas dificilmente conseguem sair.



O Morcego-rabudo Tadarida teniotis é uma das espécies de quirópteros menos conhecidas em Portugal, não existindo até à data informação adequada para avaliar o risco de extinção, nomeadamente quanto à redução do tamanho da população e à tendência de declínio. Ver estatuto da espécie segundo o Livro Vermelho do Vertebrados de Portugal.
Esta espécie encontra-se no Anexo BIV da Directiva Habitat, sendo de interesse comunitário, cuja conservação exige protecção rigorosa.





O exemplar, após observação, não mostrando qualquer traumatismo nem sintomas de debilidade, foi libertado ao anoitecer com sucesso.

Nota: Todos os Vigilantes da Natureza que procedem à manipulação de morcegos, têm vacinação anti-rábica em dia. Não é de todo aconselhável manusear um morcego de mãos nuas por quem não está habilitado nem vacinado.

Texto e fotos: Francisco Barros

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