domingo, 28 de fevereiro de 2010

A fonte de energia que vem do lixo ou o último recurso após a reciclagem

A valorização energética dos resíduos urbanos pode ser uma solução para os cinco milhões de toneladas de lixo produzidos anualmente pela população portuguesa. Mas os ambientalistas contestam: é preciso apostar na reciclagem para que apenas 30% dos resíduos precisem de solução alternativa.

Papel, cartão, embalagens, restos de comida, vidro. São vários os resíduos produzidos numa habitação que nos parecem inúteis. Mas não são. Cada caixote do lixo alberga uma fonte alternativa de energia que, gerida adequadamente, daria para alimentar uma vivenda por três meses. Falamos da valorização energética dos resíduos urbanos. Incineração com captação de energia. Os ambientalistas consideram esta uma opção de recurso, isto porque "70% dos resíduos sólidos urbanos [RSU] são recicláveis".

"Tendo em conta a crescente quantidade de resíduos que é produzida e a escassez de espaço territorial necessário para a implantação de aterros sanitários de grande dimensão para o seu destino final, a incineração possui a indiscutível vantagem de reduzir de forma significativa - à volta de 90% - o volume de resíduos ao qual terá de ser dado um destino final definitivo", explicou ao DN Luís Teixeira de Lemos, director do Departamento de Ambiente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, do Instituto Politécnico de Viseu.

Existem várias vantagens no processo de incineração com captação de energia. Dá-se um destino mais nobre a algo que não terá uso: dados do Ministério do Ambiente de 2008 põem 65% dos resíduos sólidos urbanos nos ater- ros, enquanto apenas 9% são reciclados.

A Quercus contesta. Rui Berkemeier, membro da associação ecologista, explicou ao DN que os números do Ministério do Ambiente não mostram o real valor daquilo que pode ser reciclado. "Dando um número redondo, 70% dos RSU são recicláveis. Mas para isso é preciso apostar em métodos de triagem mais eficientes", diz. Um desses métodos a serem seguidos, exemplificou o ambientalista, é o que foi instalado na empresa de gestão de RSU da zona de Portalegre, Valnor: "É um exemplo a nível europeu. Aplicaram o princípio da engenharia de minas e da sua triagem de materiais." Por causa disto, a Valnor consegue separar dois terços do plástico, que é tratado para poder ser reciclado da melhor forma. "Uma taxa su-perior à média europeia", acrescenta.

Em Portugal existem três incineradoras integradas em sistemas de gestão de resíduos urbanos: a da Valorsul, na região da Grande Lisboa Norte; a da Lipor, na região do Grande Porto; e a da Valorambiente, na ilha da Madeira. Todas estas unidades produzem energia.

Ao DN, o Gabinete de Imprensa do Ministério do Ambiente afirmou que a incineração com aproveitamento de energia "constitui uma forma de produção de energia que contribui para a redução da dependência externa e para o combate às alterações climáticas". Rui Berkemeier contesta a opinião do ministério devido à baixa eficiência das incineradoras: "Perdem 50% do calor e a produção de energia equivale a 24% daquilo que é queimado", informa.

Há inclusive diferenças no CO2 poupado em cada processo: uma tonelada de plástico poupa 1,4 toneladas de CO2, enquanto cada tonelada de RSU incinerada poupa 200 quilos de CO2 e emite 400 quilos. "No final, o saldo de emissões é negativo", completa.

Tanto o ministério como a Quercus consideram que a incineração é uma forma de captação de energia limpa. Apesar de algumas emissões (na opinião dos ecologistas) o Governo considera este processo "um destino mais nobre do que a eliminação em aterro". Mais uma vez os ecologistas discordam e pedem uma aposta superior na reciclagem: "Um siste-ma de recolha selectiva porta a porta a nível nacional vai fazer com que se recicle mais", conclui a Quercus.

Fonte: Diário de Notícias

0 comentários:

Enviar um comentário