O aterro sanitário do Sotavento algarvio transbordou, atirando com os lixiviados e os resíduos sólidos para os afluentes da ribeira do Vascão, que desagua no rio Guadiana.
Nos últimos dois dias, maquinaria pesada tem procurado tapar com terra o lixo e os plásticos espalhados pela linha de água, no concelho de Loulé. Adérito Cavaco, da Associação de Defesa da Serra do Caldeirão, fala em crime ambiental. "Até posso compreender o acidente - rompimento do talude -, mas é imperdoável a forma como se tenta esconder a realidade", observa. Só nos últimos dois meses choveu tanto como na maior parte dos últimos anos, o que ajuda a perceber o que aconteceu.
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR), João Faria, diz que foram "dadas instruções à empresa concessionária, a Algar, para juntar o lixo em montes, para posteriormente ser retirado, juntamente com a terra, da linha de água". Para segunda-feira está prevista a deslocação de técnicos deste serviço e da Administração da Região Hidrográfica do Algarve ao local, Cortelha, para accionar "um plano especial de monitorização", dadas as consequências que o acidente pode vir a ter nos aquíferos, na flora e na fauna. O aterro sanitário entrou em funcionamento em 2000, tendo esgotado a capacidade da primeira célula em 2008, altura em que entrou em actividade a segunda, programada para durar mais dez anos.
Há cerca de um mês já o Bloco de Esquerda tinha levantado a suspeita de que a infra-estrutura não estaria a funcionar de forma correcta. "Tem funcionado ao longo dos anos com grandes deficiências", escreveram os bloquistas, num requerimento dirigido ao Ministério do Ambiente. E perguntavam se tinha este aterro, que serve metade da região algarvia, sido fiscalizado, e quais os resultados dessas fiscalizações. Às dúvidas suscitadas, a CCDR respondeu que existe uma comissão de acompanhamento, presidida pela Câmara de Loulé, que já se reuniu 58 vezes. Entre Julho de 2002 e Março de 2005, os encontros destinados a avaliar o processo de laboração tinham periodicidade mensal, reduzida a seguir para bimensal, quando o funcionamento da infra-estrutura entrou em velocidade de cruzeiro.
Zona protegida
O aterro está situado numa zona classificada de sítio de Rede Natura 2000, mas a sensibilidade ambiental do lugar não pesou na decisão política de o instalar neste local. "A serra recebe o lixo que o litoral produz, que não quis ao pé da porta", observou Adérito Cavaco, lembrando que esta infra-estrutura "veio acentuar a desertificação do interior". A promessa, feita há uma dezena de anos, de colocar esgotos nessas localidades da serra do Caldeirão - Barranco do Velho, Vale Maria Dias e Cortelha - ainda está por cumprir. A construção da variante norte à cidade de Loulé, garantida pela administração central para minimizar os impactos da deslocação dos camiões do lixo, está em curso. Mas o projecto ficou a meio da distância prevista. Falta completar a ligação da cidade à estrada de São Brás de Alportel.
Fonte: Publico.pt
sábado, 6 de março de 2010
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