domingo, 11 de abril de 2010

Animal proibido continua ainda a ser alimento muito comido


Animais como o esturjão, o atum-vermelho ou vários tipos de tubarões estão em perigo de desaparecer, mas nem assim se deixa de os incluir em pratos que muitas vezes são considerados iguarias de luxo. Ambientalistas avisam que só não comprando podemos evitar o desastre.
Os pescadores puxam um grupo de tubarões-azuis para dentro do barco. Com a ajuda de facas, cortam a cada um deles as quatro barbatanas. Depois, os corpos são deitados de volta ao mar onde, incapazes de nadar, vão afundar-se e morrer. O destino das barbatanas será o mercado asiático, como Hong Kong, onde o sofrimento dos tubarões vale 520 euros o quilo.

A gula é implacável também com outras espécies, como o esturjão, as enguias e o atum-vermelho, que sofrem já problemas de redução de stocks e a ameaça da extinção.

Um exemplo português é o meixão. Estas crias da enguia-europeia só podem ser pescadas no rio Minho. Apesar disso, são capturadas ao longo de toda a costa portuguesa, sem a preocupação de que daqui a umas décadas as enguias-europeias - e consequentemente o meixão - possam deixar de existir. A razão: um quilo destas enguias bebés, também conhecidas por angulas, chega a custar mais de mil euros nos restaurantes espanhóis.

"Às pessoas nem lhes passa pela cabeça se estão a fazer bem ou mal quando compram alimentos provenientes de animais em perigo de extinção. Compram porque podem e têm dinheiro", reage ao DN Hélder Spínola, da associação ambientalista Quercus. O caso dos tubarões é sintomático: caçados apenas pelas barbatanas, que vão servir de alimento de luxo em ocasiões de festa nos países asiáticos, espécies como o tubarão-tigre ou o tubarão-azul têm a sua existência ameaçada pela sobrepesca.

O sushi também tem sido notícia nos últimos tempos por utilizar atum-vermelho na sua confecção. A demanda deste peixe - considerado o rei da comida japonesa - está a acabar com os stocks. Há pesca um pouco por todo o mundo e mesmo com os avisos de que as populações poderão extinguir-se, não há quem pare o seu comércio - nem mesmo as autoridades mundiais que estiveram reunidas no mês passado no Qatar na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção.

Também no mar, a caça à baleia teve de ser controlada para que não se extinguissem, uma vez que eram caçadas intensivamente: em 1930 caçavam-se 50 mil baleias por ano e por volta de 1950 as reservas estavam a diminuir drasticamente. Foi em 1986 que a baleação comercial foi proibida. Mas, em 1993, a Noruega considerou a lei não válida e voltou a caçar. O Japão faz o mesmo justificando-a com a investigação científica - as baleias caçadas para a ciência podem ser vendidas para não serem desperdiçadas.

O caviar também é um caso conhecido. A própria União Soviética e o Irão, a partir de 1950, tomaram medidas ecológicas para manterem as reservas de esturjão no mar Cáspio, preocupados com a direcção descendente que os stocks deste peixe tomavam.

"As pessoas têm de perceber que só elas podem acabar com isto. Não comprar é a primeira medida a tomar para que não se venda", diz o ambientalista da Quercus, pois sem compradores o mercado irá acabar por reduzir até se extinguir. "Se ninguém comprar, também ninguém vai caçar ou pescar", esclarece. Isto porque até "se podem fazer regulamentos determinando os tamanhos, mas enquanto o consumidor quiser irá haver sempre quem o capture e venda, mesmo que seja ilegal".

Fonte: Diário de Notícias

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