sexta-feira, 9 de abril de 2010

Biodiversidade: Cientistas querem fazer Barómetro da vida


Será mesmo verdade que está tudo conhecido? Conhecemos o estado de saúde de mais de um terço dos animais superiores do mundo, mas a Lista Vermelha das espécies regista menos de oito mil invertebrados, cerca de 0,5 por cento do total conhecido. E há uma grande quantidade de seres conservados em frascos em museus dos quais se desconhece a sua distribuição geográfica, se estão em perigo de extinção e quais são as ameaças a que estão sujeitos.

Por isso, um grupo de cientistas propõe hoje na revista Science a construção de um Barómetro da Vida, um projecto para o conhecimento aprofundado do estado de 160 mil espécies, que representariam não só os vários grupos da vida (fungos, plantas, invertebrados e animais superiores), mas também os diferentes ecossistemas terrestres.

“É importante que tenhamos uma linha de base que nos dê o estado de saúde de uma fatia representativa da biodiversidade”, explicou ao PÚBLICO por e-mail Michael Hoffmann, da comissão para a sobrevivência de espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

“O Barómetro vai permitir não só determinar onde estão a falhar as decisões quando se investe na conservação da biodiversidade, mas também compreender a eficácia das nossas acções”, acrescentou.

Segundo o artigo, encabeçado por Simon Stuart, da IUCN, o barómetro iria compilar a informação já existente sobre a distribuição, ameaças e risco de extinção de todas as espécies. O esforço teria de ser continuado em conformidade com a produção feita para a Lista Vermelha, que vai actualizando a situação das espécies do planeta ao longo dos anos.

No artigo estima-se que o montante necessário para manter anualmente um esforço destes seria de 45 milhões de euros. Uma subida em flecha, tendo em conta os três milhões de euros hoje gastos anualmente. Mas, segundo Hoffmann, não passaria de “0,1 por cento do valor anual que o Reino Unido investe na sua Defesa.”

O que falta saber

Hoje, o Livro Vermelho da IUCN contempla quase 48 mil espécies, menos de um terço do novo objectivo. Mas o problema é que “o que se sabe actualmente é enviesado a nível geográfico e taxonómico”, disse ao PÚBLICO numa conversa telefónica Ana Rodrigues, especialista em biodiversidade que trabalha no Centro Nacional de Investigação Científica em Montpellier, em França. Segundo a pós-doutorada, há regiões do globo e grupos de seres-vivos que se conhecem muito bem, em detrimento de outros que mal estão estudados.

Um mergulho neste projecto destaparia a ignorância acerca de muitos grupos de espécies. “Seria também um barómetro do conhecimento”, disse a investigadora, acrescentando que “um dos objectivos é desencadear mais investigação.”

Além do aumento de conhecimento, que pode permitir decisões a nível de conservação muito mais informadas, uma avaliação global dar-nos-ia uma nova fotografia do planeta. “Se me pedisse para desenhar um mapa sobre as zonas mais ricas em insectos apontaria os trópicos, mas depois não saberia o que dizer”, refere Ana Rodrigues. Este projecto, acrescenta, dar-nos-ia uma primeira visão do estado de toda a biodiversidade. “Com estes estudos produzem-se mapas de espécies que acho fascinantes.”

Fonte: Publico.pt
A cientista aponta ainda para o custo do projecto. “Em termos de financiamento são peanuts, é muito barato para a informação com que se fica.”

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