Cientistas passam a dispor de um novo modelo para estudar processos celulares, moleculares e compreender melhor as doenças humanas no futuro, além de poder avaliar melhor o declínio dos anfíbios no planeta.
A rã Xenopus tropicalis, que é carnívora e comum em África, a sul do Sara, acaba de se tornar um dos 175 organismos com o genoma sequenciado, um clube muito restrito onde figuram, entre outros, a abelha, o chimpanzé e o próprio homem. O artigo é publicado hoje na Science.
A decifração da informação genética desta rã, a primeira feita a um anfíbio, mostra que o seu genoma tem muito em comum com o do ser humano, o que segundo os cientistas pode fazer deste organismo um bom modelo para compreender melhor as doenças humanas no futuro.
A Xenopus tropicalis "foi um dos últimos organismos- -modelo a ser sequenciado, depois do rato, da galinha, ou da mosca-da-fruta", explicou Richard Harland, da Universidade de Berkeley, um dos autores da investigação. "Vai ser fantástico ter esta sequenciação genética de alta qualidade, para podermos trabalhar também com a Xenopus laevis", sublinhou o mesmo autor.
A Xenopus laevis é uma prima da Tropicalis e tem sido essencial nos estudos de embriologia e de biologia celular. Com os seus ovos de fácil manipulação, esta última permitiu uma série de descobertas sobre o processo de desenvolvimento embrionário, nomeadamente sobre a sua simetria.
Com o novo genoma, os cientistas poderão fazer estudos genéticos comparados e avaliar diferenças e semelhanças entre ambas as espécies. Outra caminho de investigação que se abre é o da tentativa de compreensão do declínio dos anfíbios em todo o planeta. Esse declínio tem sido atribuído a diferentes factores (vírus, problemas ambientais e endócrinos, ou hormonais), mas o fenómeno permanece um mistério.
"Dispormos do genoma deste anfíbio permitirá estudar o efeito dos disruptores endócrinos [substâncias químicas que interferem com o sistema glandular e hormonal] ao nível molecular e genético", sublinhou por seu turno Uffe Helsten, do Joint Genome Institute, nos EUA, e outro dos participantes na sequência genética da rã.
Aqueles disruptores endócrinos são comuns em lagos e rios, em consequência da poluição agrícola, química e industrial, e podem ser uma das causas do declínio dos anfíbios. "Compreender os seus efeitos a nível molecular poderá ajudar-nos a preservar os anfíbios e, uma vez que estes químicos também afectam os seres humanos, isso poderá ter um efeito positivo na saúde humana", concluiu Uffe Helsten
Fonte: Diário de Notícias
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