A maré negra no Golfo do México não pára de crescer há uma semana e deverá começar a chegar amanhã à zona costeira do Louisiana, alertaram as autoridades. A BP detectou uma terceira fuga.
Desde hoje e durante o fim-de-semana, ventos persistentes deverão soprar mais forte e empurrar a mancha negra de hidrocarbonetos em direcção ao litoral, estima a NOAA (agência norte-americana dos oceanos e atmosfera).
No Golfo do México, a luta continua para conter a poluição. A BP (que explorava a plataforma petrolífera que explodiu) montou centenas de barreiras flutuantes e está a lançar ao mar matérias dispersantes. Na quarta-feira realizou um incêndio controlado de algumas porções da mancha negra. Esta não é uma técnica nova. No passado, tentativas semelhantes conseguiram queimar entre 50 a 90 por cento do petróleo. Mas acarreta impactos ao nível da qualidade do ar que as autoridades não afastam.
“Ainda temos mais barreiras para usar. Não temos nada esgotado. Temos tudo o que precisamos”, garantiu em conferência de imprensa Mary Landry, contra-almirante da Guarda Costeira de Nova Orleães.
Mas para quem está no terreno, as notícias não têm sido boas. Ontem, a BP detectou uma terceira fuga na estrutura que ligava o poço, a 1525 metros de profundidade, à plataforma Deepwater Horizon.
Além disso, as estimativas sobre a quantidade de petróleo libertado estavam erradas. Em vez de o equivalente a mil barris de petróleo por dia as autoridades falam agora de cinco mil barris diários. A situação é tão grave que o Exército diz-se pronto para intervir, informou ontem o general Victor Renuart, comandante americano da região militar Norte (Northcom).
A maré negra tem cerca de mil quilómetros de circunferência, ligeiramente mais do que a superfície do estado da Virgínia ocidental. A BP, financeiramente responsável pelos trabalhos de limpeza, está a gastar seis milhões de dólares (cerca de 4,5 milhões de euros) por dia nas operações.
Louisiana, mais uma vez, na linha da frente
Quando o furacão Katrina chegou, em 2005, o Louisiana esteve na linha da frente. Agora, e sem que a tempestade se tenha apagado da memória, o Louisiana volta a aguardar uma catástrofe. Especialmente nas zonas húmidas, sinónimo de santuário para as aves aquáticas.
O Delta do Mississípi está em risco, nomeadamente a área protegida de Pass-A-Loutre e o Refúgio de Vida Selvagem de Breton, na ponta da costa do Louisiana. Ambas as zonas são importantes locais de nidificação para as aves.
Bobby Jindal, governador do Louisiana, pediu às autoridades federais ajuda de emergência. “A nossa prioridade absoluta é proteger os cidadãos e o Ambiente”. Barreiras flutuantes estão colocadas a 20 milhas náuticas ao largo da costa para tentar conter a poluição. Jindal alerta que não são suficientes.
Outros estados também estão preocupados. Florida, Alabama e Mississípi acreditam que a maré negra vai afectar a sua indústria pesqueira, crucial para a economia local.
No Louisiana, criadores de camarão apresentaram queixa contra a BP, acusando o grupo de “negligência” e “poluição”. A agência AFP avança que esperam obter cinco milhões de dólares (3,7 milhões de euros) de indemnizações.
A Casa Branca e o Congresso norte-americano abriram dois inquéritos em separado para apurar responsabilidades no pior acidente ao largo do país na última década.
A 31 de Março, o Presidente Barack Obama defendeu a expansão da exploração petrolífera e de gás natural ao largo da costa norte-americana, como forma de tentar ganhar o apoio republicano às suas propostas legislativas sobre alterações climáticas. Com a maré negra, organizações ambientalistas redobraram as críticas à decisão.
Um novo Exxon Valdez?
A comparação entre a maré negra no Golfo do México e o acidente causado pelo cargueiro Exxon Valdez, em 1989, parece inevitável. Por enquanto, ainda não se sabe qual o mais grave.
O naufrágio do cargueiro da ExxonMobil na enseada Prince William, no Alasca, a 24 de Março de 1989, derramou 50 milhões de litros de petróleo numa superfície de 1300 quilómetros. Ainda hoje continua a ser a maior maré negra em águas norte-americanas e mais de onze mil pessoas e 1400 navios estiveram envolvidos das operações de limpeza.
Estima-se que morreram entre cem mil e 700 mil aves devido ao desastre. Vinte anos depois, a população da maioria das espécies afectadas voltou aos níveis de antes do desastre ou está a recuperar bem. O arenque, uma das maiores fontes de rendimento dos pescadores locais, foi das poucas espécies marinhas que não recuperou do desastre.
Maré negra: cinco mil barris de petróleo por dia no mar
A fuga de petróleo que desde a semana passada ameaça o Golfo do México é cinco vezes pior do que o que se estimava: as fugas fruto da explosão da semana passada estão a fazer com que seja derramado no oceano o equivalente a cinco mil barris de petróleo por dia.
Já antes de se saber deste novo número, quando a fuga estava a deitar o equivalente a mil barris de petróleo no mar, especulava-se que esta poderia ser a pior maré negra da história dos EUA. Com os novos dados – foi descoberta uma terceira fuga –, este temor parece estar a concretizar-se.
A maré negra também deverá chegar mais rapidamente à costa do estado norte-americano do Lousiana do que o que se esperava até agora, o que levou o governador, Bobby Jindal, a pedir ajuda de emergência.
A maré poderá ser um desastre chegando às praias da costa do estado, e ameaçando o delta do Mississípi.
Robôs submarinos tentavam reparar a fuga a 1500 metros de profundidade mas o procedimento não estava a ter sucesso. Já começaram a ser feitos incêndios controlados do petróleo, mas ainda assim com os ventos e correntes a maré negra poderá chegar à costa já amanhã.
Fonte: Publico.pt
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