sexta-feira, 14 de maio de 2010

Empresas ignoraram avisos de perigo antes da explosão na plataforma petrolífera

As empresas envolvidas na exploração petrolífera da plataforma Deepwater Horizon ignoraram os testes que indicavam falhas nos dispositivos de segurança, horas antes da explosão, segundo a investigação realizada pelo Senado norte-americano à maré negra no Golfo do México.

Quando o acidente aconteceu, a 20 de Abril, o poço petrolífero estava a ser selado porque a BP queria começar a explorar outra zona. Segundo o “The Wall Street Journal”, baseado em cem mil páginas de documentos e testemunhos obtidos no âmbito de uma investigação realizada pela Câmara dos Representantes, a fase final do processo de selagem do poço arrancou a 19 de Abril. A Halliburton injectou cimento na conduta de perfuração até ao poço, a 1500 metros de profundidade. Duas horas depois, foi injectada lama pesada para impedir que qualquer gás fosse libertado. No final, a Halliburton colocou como que uma tampa de cimento no fundo do poço.

Mas alguns dos testes realizados à pressão mostraram que nem tudo tinha corrido bem. Estes indicaram que hidrocarbonetos estavam a entrar no poço e que o sucesso da selagem era “inconclusivo” ou mesmo “não satisfatório”, disse esta segunda-feira aos investigadores James Dupree, vice-presidente da BP para o Golfo do México.

A menos de duas horas da explosão na plataforma, responsáveis da BP decidiram que se justificava a suspensão dos trabalhos, informou Henry Waxman, responsável do Comité do Comércio e Energia da Câmara dos Representantes, onde terça e quarta-feira foram ouvidos os líderes das três empresas envolvidas: BP, Transocean e Halliburton.

Depois disso terá havido “um debate interno entre os funcionários da Transocean e da BP sobre como proceder”, disse Waxman. Uma das opções seria injectar mais cimento e instalar uma nova secção da conduta de perfuração. Mas essa operação deveria demorar, pelo menos, uma semana e custar à BP entre cinco e dez milhões de dólares (3,9 e 7,9 milhões de euros). Os responsáveis decidiram, então, deixar cair esta intervenção e avançaram para a conclusão do processo. Para isso removeram a lama pesada, uma das garantias de segurança. Foi nesta altura que o gás terá começado a subir pela conduta. Mas a última linha de defesa em caso de acidente, um conjunto de válvulas designado BOP (blowout preventer) - instalado na cabeça do poço para regular a pressão e que cortaria o fluxo em caso de emergência -, não funcionou, possivelmente devido a um problema hidráulico ou porque terá ficado preso por detritos vindos do poço. O fabricante do BOP, a empresa Cameron, afirmou ao Senado que a máquina tinha uma fuga num sistema hidráulico crucial.

Henry Waxman duvida ainda da forma como a BP, proprietária do poço petrolífero, respondeu à maré negra. “A companhia disse que podia gerir um derrame de 250 mil barris por dia. Ainda assim está a lutar para enfrentar apenas entre cinco mil e 25 mil barris diários”. “Quanto mais sei sobre este acidente mais fico preocupado. Esta catástrofe parece ter sido causada por uma série calamitosa de falhas operacionais e de equipamento”, comentou Henry Waxman, segundo o qual as audições deverão continuar nas próximas semanas.

Hoje, a BP anunciou que a maré negra já lhe custou 450 milhões de dólares (cerca de 357 milhões de euros). Mais de 530 embarcações estão envolvidas nas operações de recuperação e confinamento da maré negra, enquanto mais de 120 aviões estão destacados para lançar produtos químicos dispersantes sobre a mancha negra. Até ao momento já foram recuperados 97 mil barris de petróleo, segundo a BP.

A companhia petrolífera colocou no fundo do mar uma cobertura para tapar a fuga de petróleo, substituindo uma cúpula de betão e aço que não funcionou.

Fonte: Publico.pt

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