Em Outubro do ano passado, Meredith Barrett, investigadora em ecologia da Duke University, nos Estados Unidos, estava em Madagáscar a estudar o impacto do desenvolvimento humano na saúde das populações do lémure. Foi então que o acaso a fez tropeçar noutro problema: o do abate ilegal de árvores de pau-rosa e jacarandás.
Perante a evidência, a investigadora documentou a situação, e depois decidiu estudar, com a colaboração do botânico francês Jean-Noel Labat, a distribuição daque- las árvores em todo o território. Foi assim que os investigadores concluíram que a muito curto prazo as árvores de pau-rosa poderão enfrentar a extinção, a menos que haja medidas contra a actividade ilegal dos madeireiros. Os resultados do estudo e o alerta são publicados hoje na Science.
"Das 48 espécies de árvores de pau-rosa que existem em Madagáscar, 47 são endémicas, ou seja, não existem em mais lado nenhum do mundo", explicou Meredith Barrett, expondo a situação crítica que pode estar no horizonte. De acordo com a equipa, 90 por cento da floresta original de Madagáscar já não existe e a taxa de desarborização é preocupante.
De acordo com a sua avaliação para oito espécies e árvores de pau-rosa em todo o território, a sua distribuição cobria originalmente 93 por cento da ilha, mas a sua diminuição cifra-se hoje entre 54 e 98 por cento. A equipa identificou ainda 25 áreas protegidas com risco alto e médio de futuras actividades madeireiras.
Com um governo de transição no poder, desde Março do ano passado, quando o presidente eleito foi obrigado pelos militares a resignar, Madagáscar vive num equilíbrio político instável, que se reflecte também em decisões erráticas na protecção da natureza.
Isso mesmo aconteceu recentemente. "Estimativas por baixo apontam para que, desde Abril de 2009, 1137 contentores, cada um com uma média de 144 troncos de pau-rosa, no valor de 224,4 milhões de dólares, foram exportados por Madagáscar", escrevem os investigadores, explicando "que os exportadores beneficiaram de medidas de excepção do governo de transição a uma proibição anterior de exportação de produtos de madeira dura". Já depois disso, a 21 de Dezembro do ano passado, o abate destas espécies e a exportação da sua madeira foi liberalizada, para voltar a ser banida pelo Governo malgaxe, em vésperas da Conferência das Partes da CITES, a convenção que regula o comércio internacional das espécies ameaçadas.
Os investigadores questionam a eficácia desta proibição e propõem que aquelas espécies sejam integradas no Anexo III da CITES, de forma a promover desde já a sua protecção efectiva.
Fonte: Diário de Notícias
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