Entre 2004 e 2009, o Brasil conseguiu reduzir em 75% as emissões de CO2 geradas por desmatamentos na Floresta Amazônica e um dos principais fatores nessa redução é o aumento do número de áreas protegidas nessa região do país.
É o que mostra o artigo “O papel das áreas protegidas da Amazônia Brasileira nas mitigações de mudanças climáticas” (“Role of Brazilian Amazon protected areas in climate change mitigation“), escrito pelo professor Britaldo Soares Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, em parceria com pesquisadores brasileiros e norte-americanos.
O artigo, recentemente publicado na “Pnas”, um dos periódicos científicos mais relevantes dos Estados Unidos, afirma que a expansão das áreas protegidas na década passada contribuiu com 37% da redução total de CO2 na Amazônia brasileira.
Entre os outros fatores relevantes estão a desaceleração da atividade agrícola e aumento da fiscalização do Governo Federal. “Esses dados demonstram que as áreas protegidas são peças fundamentais para frear o avanço do desmatamento, formando uma espécie de ‘barreira verde’”, constata Britaldo Soares.
Segundo o pesquisador, se forem consideradas todas as categorias de áreas de proteção, inclusive reservas indígenas e áreas militares, elas equivalem a 46% do bioma da Amazônia no Brasil e 54% da floresta remanescente (aproximadamente 1,9 milhão de km²). De todo esse território, 709 mil km² foram transformados em áreas protegidas apenas no período entre 2002 e 2009. “Isso mostra que a redução no desmatamento, e, consequentemente, na emissão de CO2, tem relação direta com o crescimento das áreas protegidas”, conclui Britaldo Soares.
A partir desses dados, a equipe de pesquisadores responsável pelo artigo simulou vários cenários que ampliavam o número de áreas protegidas no país. “Concluímos que, se todas as áreas protegidas forem completamente instauradas, elas podem reduzir em 8 gigatons a emissão de carbono da floresta até 2050. Isso equivale a toda emissão de carbono de mundo em um ano, considerando apenas as fontes de emissão antropogênicas”, afirma o professor.
Desafios
Para Britaldo Soares, é importante ressaltar que não basta apenas “criar” as áreas protegidas: é preciso também consolidar e manter essas áreas, se não elas podem se tornar reservas futuras de desmatamento. “Isso se torna ainda mais difícil para um país em desenvolvimento como o Brasil, que precisa fazer grandes investimentos em outras áreas sociais”, afirma.
Além dos custos de manutenção, é preciso considerar também que as áreas protegidas podem trazer um impacto negativo para a economia do país, já que elas evitam que parte do território da floresta seja utilizado para a pecuária e a agricultura. Porém, é possível realizar atividades econômicas nessas áreas. As biossustentáveis, por exemplo, podem realizar atividades extrativistas, como a coleta de castanhas do Brasil, e as florestas nacionais podem se tornar concessões de madeira para exploração de baixo impacto.
O governo federal criou ainda uma alternativa para arrecadar recursos para a preservação da floresta: o Fundo da Amazônia, que recebe investimentos voluntários de outros países para serem aplicados em projetos que ajudem na redução das emissões de CO2.
“Essas políticas são importantes porque somente as áreas protegidas não são suficientes para preservar a Amazônia”, revela Britaldo Soares. “É preciso criar ainda políticas que forneçam estímulos econômicos para a conservação da floresta dentro das propriedades privadas também.”
Divulgação Científica da Assessoria de Imprensa Cedecom/UFMG, publicada pelo EcoDebate, 02/06/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/06/02/areas-protegidas-na-amazonia-evitam-um-ano-de-emissoes-mundiais-de-carbono/
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