Paula Seixas Arnaldo, do departamento de Protecção de Plantas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), disse que o lepidóptero Maculinea alcon é uma das espécies mais emblemáticas do Parque Natural do Alvão (PNA) pelos tons azulados que lhe dão o nome e também por ser uma espécie em vias de extinção.
Esta semana realizou-se o dia aberto do Parque Natural do Alvão (PNA), iniciativa que pretendeu assinalar os 27 anos da criação desta área protegida e se inseriu no âmbito do Ano Internacional do Biodiversidade.
A borboleta azul tem seis colónias no Alvão e encontra-se ameaçada em muitos países do Centro e Norte da Europa.
Paula Seixas Arnaldo referiu que a UTAD está a investigar esta espécie desde 2006, num estudo que teve início com o estágio de Patrícia Soares.
Para além da monitorização e contagem dos indivíduos, decorrem ainda acções de sensibilização junto dos habitantes do parque natural. Isto porque, explicou, o gado continua a pastar nos lameiros onde a borboleta desenvolve o seu ciclo de vida.
O lameiro que acolhe a maior colónia portuguesa da borboleta azul encontra-se junto da aldeia de Lamas de Olo, no cimo da serra do Alvão. “Os habitantes de Lamas de Olo já sabem que nas suas redondezas há uma borboleta que tem que ser conservada. Estamos a tentar convence-los que há, pelo menos, um mês no ano em que não deve entrar o gado naquele lameiro”, salientou Paula Seixas Arnaldo.
A responsável considera que as pessoas e esta espécie podem coabitar. “Havendo alguns cuidados mínimos há toda a possibilidade da borboleta não desaparecer e de não causar qualquer transtorno aos residentes do PNA”.
Paula Seixas Arnaldo referiu que, no maior lameiro e onde se concentram os trabalhos de investigação, se verificou que, em quatro anos, a densidade populacional deste lepidóptero passou de 400 para 1400 indivíduos em período de voo.
Para a docente, a borboleta é também única por causa do seu ciclo de vida. Trata-se de uma espécie muito frágil e com baixa tolerância a variações no ecossistema, necessitando de condições ecológicas específicas. Necessita, designadamente, da presença da sua planta hospedeira, a genciana, onde coloca os ovos, assim como da formiga do género myrmica que a alimenta no seu formigueiro durante as últimas fases larvares. “Esta formiga cria as larvas durante nove a dez meses, até o desenvolvimento final se dar e as borboletas passarem novamente à fase adulta e iniciar-se nova geração. Há um complexo que tem que existir no ecossistema, basta falhar um destes aspectos para a borboleta desaparecer”, sublinhou.
No âmbito do projecto preservação da biodiversidade “Conhecer é proteger”, promovido pela Câmara de Vila Real e que conta com o apoio de fundos comunitários, está prevista a construção da Estação da Maculinea, na zona da Campeã, onde vai ser possível observar o ciclo biológico desta espécie.
Fonte: LUSA
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