sábado, 12 de junho de 2010

Centro de reprodução de peneireiro-das-torres recebeu 22 crias vindas de Espanha


Vinte e duas crias de peneireiro-das-torres (Falco naumanni), também conhecido por francelho, chegaram esta manhã de Espanha ao único Centro de Reprodução em cativeiro da espécie no país, em Évora. Estas aves, de uma espécie mundialmente ameaçada, vão ajudar a trazer de volta a colónia à cidade.

As 22 crias, com entre 18 e 21 dias de idade, fizeram uma viagem de hora e meia desde Almendralejo, província de Badajoz, de um centro da associação espanhola Defensa y Estúdio del Médio Ambiente (DEMA). “Vieram dentro de uma caixa construída de propósito, com várias divisórias de forma a permitir agrupamentos de cinco a seis animais, e com relva artificial e palha para se sentirem confortáveis”, contou Rita Sanches, técnica do centro, gerido pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

As aves traziam uma anilha CITES (Convenção da ONU para o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas), porque passaram a fronteira. Quando chegaram a Évora a anilha foi substituída por uma anilha oficial portuguesa e por outra de identificação.

Depois da anilhagem foram colocadas, uma a uma, num ninho instalado por cima do edifício do Centro de Acolhimento e Recuperação de Animais Silvestres (CARAS), perto de onde estão 27 francelhos irrecuperáveis. "São animais feridos que caíram dos ninhos e que recolhemos durante as acções de vigilância e monitorização das colónias em 2003 e 2004", explicou Rita Sanches. Estas aves representam uma colónia de referência para as crias. "As aves que já não podem ser devolvidas à natureza proporcionam um ambiente de colónia. Aquilo que pretendemos é adaptar estas crias ao local e fazer com que aprendam a caçar."

As pequenas aves já comem sozinhas mas ainda não voam. “Deverão passar uma semana dentro do ninho, antes de se aventurarem a explorar o espaço exterior”, explicou a técnica. Depois, começarão a esvoaçar pelos telhados e muralhas da cidade ali perto, explorando zonas de alimentação. Até ao final de Julho, já terão partido nas migrações. “Em meados de Fevereiro deverão começar a regressar a Évora. Nessa altura vamos andar à procura delas”, disse Rita Sanches.

A 15 de Junho chegarão ao CARAS mais outras tantas crias, no âmbito do projecto Conservação e Restabelecimento do Francelho na região de Évora, que começou no início de Agosto de 2009 e que tem uma duração de dois anos. O projecto, orçado em 250 mil euros - financiado em 60 por cento pelo programa InAlentejo, do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) -, tem o apoio da Câmara Municipal de Évora, da Rede Ferroviária de Alta Velocidade (Rave), de uma farmácia daquela cidade e da Junta da Extremadura.

Este ano nasceram no CARAS, pelo menos, três crias. Segundo Rita Sanches, uma juntou-se às 22 aves vindas de Espanha e as outras duas ainda estão nos ninhos com os seus progenitores. “Existem alguns ovos nos outros ninhos mas ainda não conseguimos contá-los”, explicou.

No final do século XX, a espécie de falcão mais pequeno do país (com uma envergadura entre 63 e 72 centímetros) estava a regredir, à medida que desapareciam as suas áreas de alimento nos campos de cereais. A agricultura de sequeiro era substituída pela de regadio e as searas pelo olival e a vinha. Mas não só. Com a requalificação do património histórico foram tapadas as cavidades em muralhas, igrejas e outros edifícios, usadas como locais de nidificação. Nos anos 90, muitas das colónias de peneireiro no Alentejo tinham praticamente desaparecido. A colónia de Évora desapareceu há cerca de 50 anos.

Mas a pouco e pouco, o território do francelho está a espalhar-se pelas planícies do Alentejo. Dos 150 casais que existiam no país na década de 90 passámos para 450 em 2006. De momento, 80 por cento da população nacional concentra-se em Castro Verde. A de Évora está a caminho de ser reestabelecida - tem garantias de acesso a campos de caça (de insectos, claro) a cerca de três quilómetros em linha recta do centro histórico. Mais do que uma conquista, este é o regresso da espécie a locais que foi obrigada a abandonar.

Fonte: Publico.pt

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