As 22 crias, com entre 18 e 21 dias de idade, fizeram uma viagem de hora e meia desde Almendralejo, província de Badajoz, de um centro da associação espanhola Defensa y Estúdio del Médio Ambiente (DEMA). “Vieram dentro de uma caixa construída de propósito, com várias divisórias de forma a permitir agrupamentos de cinco a seis animais, e com relva artificial e palha para se sentirem confortáveis”, contou Rita Sanches, técnica do centro, gerido pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN).
As aves traziam uma anilha CITES (Convenção da ONU para o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas), porque passaram a fronteira. Quando chegaram a Évora a anilha foi substituída por uma anilha oficial portuguesa e por outra de identificação.
Depois da anilhagem foram colocadas, uma a uma, num ninho instalado por cima do edifício do Centro de Acolhimento e Recuperação de Animais Silvestres (CARAS), perto de onde estão 27 francelhos irrecuperáveis. "São animais feridos que caíram dos ninhos e que recolhemos durante as acções de vigilância e monitorização das colónias em 2003 e 2004", explicou Rita Sanches. Estas aves representam uma colónia de referência para as crias. "As aves que já não podem ser devolvidas à natureza proporcionam um ambiente de colónia. Aquilo que pretendemos é adaptar estas crias ao local e fazer com que aprendam a caçar."
As pequenas aves já comem sozinhas mas ainda não voam. “Deverão passar uma semana dentro do ninho, antes de se aventurarem a explorar o espaço exterior”, explicou a técnica. Depois, começarão a esvoaçar pelos telhados e muralhas da cidade ali perto, explorando zonas de alimentação. Até ao final de Julho, já terão partido nas migrações. “Em meados de Fevereiro deverão começar a regressar a Évora. Nessa altura vamos andar à procura delas”, disse Rita Sanches.
A 15 de Junho chegarão ao CARAS mais outras tantas crias, no âmbito do projecto Conservação e Restabelecimento do Francelho na região de Évora, que começou no início de Agosto de 2009 e que tem uma duração de dois anos. O projecto, orçado em 250 mil euros - financiado em 60 por cento pelo programa InAlentejo, do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) -, tem o apoio da Câmara Municipal de Évora, da Rede Ferroviária de Alta Velocidade (Rave), de uma farmácia daquela cidade e da Junta da Extremadura.
Este ano nasceram no CARAS, pelo menos, três crias. Segundo Rita Sanches, uma juntou-se às 22 aves vindas de Espanha e as outras duas ainda estão nos ninhos com os seus progenitores. “Existem alguns ovos nos outros ninhos mas ainda não conseguimos contá-los”, explicou.
No final do século XX, a espécie de falcão mais pequeno do país (com uma envergadura entre 63 e 72 centímetros) estava a regredir, à medida que desapareciam as suas áreas de alimento nos campos de cereais. A agricultura de sequeiro era substituída pela de regadio e as searas pelo olival e a vinha. Mas não só. Com a requalificação do património histórico foram tapadas as cavidades em muralhas, igrejas e outros edifícios, usadas como locais de nidificação. Nos anos 90, muitas das colónias de peneireiro no Alentejo tinham praticamente desaparecido. A colónia de Évora desapareceu há cerca de 50 anos.
Mas a pouco e pouco, o território do francelho está a espalhar-se pelas planícies do Alentejo. Dos 150 casais que existiam no país na década de 90 passámos para 450 em 2006. De momento, 80 por cento da população nacional concentra-se em Castro Verde. A de Évora está a caminho de ser reestabelecida - tem garantias de acesso a campos de caça (de insectos, claro) a cerca de três quilómetros em linha recta do centro histórico. Mais do que uma conquista, este é o regresso da espécie a locais que foi obrigada a abandonar.
Fonte: Publico.pt
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