Os chimpanzés são muito territoriais e chegam a atacar outros grupos e a matar os da sua espécie para expandirem território. O estudo de uma população de chimpanzés no Uganda confirmou pela primeira vez este comportamento.
Os autores do estudo, que foi publicado ontem na revista científica Current Biology, são no entanto muito prudentes nas ilações a tirar para a espécie humana. Em vez da luta, "que nos seres humanos ocorre por muitas razões diferentes", os investigadores preferem destacar a cooperação entre os chimpanzés atacantes.
Os ataques mortíferos por parte de chimpanzés a outros indivíduos da mesma espécie foram observados pela primeira vez pela guru dos primatólogos, Jane Goodall. Ela e a sua equipa ofereceram comida a um grupo de chimpanzés para ganhar a sua confiança e poder segui-lo no seu ambiente. Foi assim que testemunharam pela primeira vez ataques mortíferos desse tipo.
No entanto, alguns investigadores mostraram-se cépticos e sugeriram que a oferta de comida por parte dos investigadores poderia ter alterado o comportamento dos animais. E a questão ficou em aberto. Até agora.
No estudo que desenvolveu nos últimos dez anos nas florestas do Uganda, o grupo de investigadores coordenado pelo primatólogo John Mitani, da Universidade de Michigan, nos EUA, não utilizou comida para se aproximar dos animais, o que elimina essa hipótese de enviesamento.
Ao longo da década em que decorreu o estudo, a equipa de John Mitani testemunhou 18 ataques com mortes e detectou sinais de outros três, que foram levados a cabo por elementos de uma grande comunidade com cerca de centena e meia de chimpanzés da região de Ngogo, no Parque Nacional de Quibale, no Uganda.
Após aqueles episódios, a comunidade a que pertenciam os atacantes começou a utilizar o território que havia pertencido aos outros animais, expandindo em 22 por cento o seu espaço de vivência, para alimentação e socialização.
"Quando eles passaram a ocupar o novo território, percebemos que antes tinham morto ali uma série de chimpanzés da outra comunidade", explicou John Mitani, sublinhando que as suas observações "ajudam a resolver as questões há muito aberto sobre a função deste tipo de ataques inter-grupais nos chimpanzés".
Estes episódios de agressão ocorrem quando grupos de vários elementos (todos machos, quase sempre) se deslocam nas fronteiras do seu território, penetrando também no de outros grupos, numa espécie de patrulhamento.
Na leitura antropológica destas situações, os autores destacam o comportamento cooperativo no interior do grupo atacante. "É cooperativo na sua natureza, na medida em que envolve alianças entre os machos que atacam. Após a conquista do território, ele é redistribuído por outros do grupo", concluiu John Mitani.
Fonte: Diário de Notícias
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