Um consórcio de investigadores, de empresas e de industriais portugueses quer descodificar o genoma do sobreiro, uma árvore vital para a economia portuguesa. O projecto foi submetido há cerca de três meses ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), por um grupo de três entidades liderado pela Corticeira Amorim, mas ainda não há resposta. Existe um impasse processual e os proponentes aguardam uma solução. O ministro da Agricultura, António Serrano, disse ao DN que vai averiguar a situação.
Ontem, numa das concorridas sessões do Encontro com a Ciência e Tecnologia em Portugal, que decorre até amanhã no Centro de Congressos de Lisboa, essa foi uma das questões em foco.
A ideia de sequenciar o genoma do sobreiro não é de agora. Ela já germina há mais de uma década entre os investigadores que em Portugal se dedicam à genómica de plantas. E há boas razões para isso. O montado constitui cerca de um terço da floresta portuguesa e o sector da cortiça tem números fortes para apresentar no contexto da economia nacional: é o único do País que é líder a nível mundial.
Portugal detém 32 por cento da floresta de sobreiro a nível internacional, produz 52 por cento de toda a cortiça à escala mundial e processa 70 por cento de toda essa matéria-prima.
No entanto, 15 a 20 por cento do montado está afectado por doença e a qualidade da cortiça decaiu nos últimos anos. Além disso, o stress hídrico devido às secas, que se prevêem no futuro mais frequentes e mais intensas devido às alterações climáticas, coloca ainda maior pressão sobre esta floresta. Daí que uma das medidas a tomar (além das fito-sanitárias, de formação, ou outras) é a realização de estudos que ajudem a resolver estes problemas.
A sequenciação do genoma do sobreiro é um desses trabalhos de investigação, como concordam todos: investigadores, empresários e produtores incluídos.
"Sequenciar o genoma do sobreiro custará dois milhões de euros e levar- -nos-á dois a três anos a concluir", adiantou ao DN o investigador José Matos, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB), uma das três entidades, a par da Corticeira Amorim e do Biocant (parque de biotecnologia), que submeteu o projecto ao QREN.
Ontem, na sessão Sobreiro: genoma, ecologia e produção florestal, foram unânimes as opiniões sobre a necessidade de avançar nesse sentido. E houve até quem apelasse ao ministro da Agricultura António Serrano, que coordenou a própria sessão, para "ajudar a desbloquear a situação".
O problema, segundo apurou o DN, tem a ver com as próprias regras do QREN. É suposto de um projecto no seu âmbito possa ter aplicações imediatas. Algo que não se passará seguramente com a sequenciação do genoma do sobreiro. Essa informação será sobretudo importante a longo prazo para o futuro do montado e do sector económico que dele depende.
Questionado pelo DN, o ministro da Agricultura afirmou que o desfecho terá a ver "com o mérito científico do projecto" e sublinhou que a tutela, o ministério da Economia, "está sensibilizada para questão, já que este é um sector vital para economia nacional". E prometeu: "Vou ver qual é a situação."
Fonte: Diário de Notícias
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