A população residente nas proximidades do porto luta há quase dez anos contra a poluição provocada por esta actividade.
A movimentação e armazenamento de aparas de madeira no porto de Leixões provoca muitos incómodos, sobretudo a quem mora nas proximidades, que já há quase uma década luta contra esta situação. A Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) tem consciência disso e preparou uma série de medidas, que incluem a definição de um limite máximo do volume da estilha de madeira que pode ser armazenado. "Estamos nesta altura a fazer esse trabalho", disse ao PÚBLICO Matos Fernandes, presidente do conselho de administração da APDL. "Tem de haver um limite de volume de estilha e o porto de Leixões não pode ser utilizado para lá desse limite", vincou.
Mas há mais medidas. Desde o mês passado, existe uma altura de três contentores mais um pedaço de rede (10 metros de altura no total) que funciona como barreira à dispersão de partículas. Conforme ficou confirmado num estudo laboratorial anterior à adopção da barreira, em alguns dias, as partículas ultrapassavam muito o limite máximo previsto por lei. Até ao final deste ano "ou, o mais tardar, no início do ano que vem", nos cálculos de Matos Fernandes, será ainda colocada uma rede metálica na "parede" de contentores que deverá travar de forma mais eficaz a passagem de partículas.
A nova rede será fruto da colaboração entre a Universidade de Aveiro e uma empresa de arquitectura. Para além de ser utilizada na referida barreira, será também colocada por cima da estilha armazenada. "Aquilo hoje é um espaço aberto, mas temos de o imaginar como um espaço fechado", explica Matos Fernandes. Outra medida, esta já em funcionamento, passa pela aspersão de água durante as movimentações de estilha. Mas se esta tem a vantagem de diminuir as poeiras, os moradores contrapõem que provoca mau cheiro e fomenta o desenvolvimento de fungos.
As aparas de madeira chegam em navio provenientes de países como o Congo ou o Uruguai. Ficam armazenadas no porto de Leixões, de onde são levadas em camiões (150 a 200 por dia) com destino às fábricas de pasta de papel. "São a matéria-prima para um importante sector exportador", recorda Matos Fernandes.
Para além das partículas, os moradores queixam-se também do ruído das cargas e descargas, bem como de mau cheiro. Desde 2001 que cerca de 300 cidadãos têm protestado, por todos os meios ao seu alcance, contra esta situação. No entanto, esta luta com quase uma década só a partir do mês passado atingiu resultados visíveis, como é o caso da barreira de contentores e rede com uma altura de dez metros colocada à face da estrada. Como se calcula, a altura dos montes de estilha armazenados também se tornou inferior a este limite.
Ainda no passado dia 7 de Julho, a deputada do Bloco de Esquerda Rita Calvário apresentou uma pergunta dirigida ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território sobre esta matéria. Rita Calvário cita um abaixo-assinado de cidadãos datado de 14 de Junho último onde se pode ler que "as descargas são efectuadas sem qualquer espécie de protecção ou cuidado, levantando poeiras enormes que, em poucos segundos, são depositadas nas zonas circundantes, que incluem habitações, escolas, estabelecimentos comerciais, viaturas automóveis, causando graves prejuízos à saúde das pessoas e à integridade dos bens".
CCDRN equaciona medir qualidade do ar
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) "está a pensar instalar uma estação de medição da qualidade do ar na área de influência residencial do porto de Leixões", revelou ontem fonte do gabinete de comunicação deste organismo. A ser instalada, essa estação de medição irá operar durante um mínimo de 14 semanas. Apesar de possuir mais de duas dezenas de estações fixas, não é comum a CCDRN instalar dispositivos móveis. Um dos últimos locais onde o fez foi na refinaria da Petrogal.
Para além da intenção da CCDRN, também a própria APDL poderá começar a monitorizar internamente a qualidade do ar e níveis de ruído. "A APDL já comunicou o desejo de instalar um sistema de monitorização da qualidade do ar e do ruído", revelou o mesmo elemento da comissão.
A CCDRN elogia a "boa vontade e a disponibilidade da APDL" no sentido de minorar o incómodo que a movimentação de aparas de madeira provoca às populações. Desde que, em Maio, a CCDRN começou a trabalhar neste assunto com a APDL foram já tomadas medidas concretas, como a aspersão de água nos momentos de movimentação da estilha e a barreira de contentores e rede com dez metros de altura. Porém, a CCDRN quer ir mais longe e pretende "acelerar a adopção de soluções mais definitivas", como é o caso da rede metálica. Nesse sentido, responsáveis da CCDRN irão visitar o porto de Leixões "ainda esta semana ou no princípio da próxima".
Fonte: Publico.pt
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