sexta-feira, 6 de agosto de 2010

BP na etapa final para selar definitivamente poço do Deepwater Horizon

As equipas que estão a trabalhar na selagem do poço de petróleo que a BP explorava na plataforma Deepwater Horizon, ao largo do Luisiana, esperavam que secasse o cimento lançado para o interior do canal antes de avançarem com a última etapa da operação de contenção do derrame: a perfuração dos derradeiros 30 metros de um poço alternativo, que também será preenchido com lama e cimento para garantir que o crude se mantém inamovível na camada subterrânea.

Terminará, então, o procedimento que os engenheiros do sector denominam como “manobra estática”, e que foi iniciado na passada terça-feira. Antes disso, a BP já tinha conseguido parar o derrame de petróleo, com a instalação de novas válvulas que fecharam o canal de perfuração. Mas durante os 105 dias em que o poço esteve a debitar crude descontroladamente, as águas do golfo do México terão sido poluídas com mais de 4,9 milhões de barris de petróleo.

“As boas notícias são que as pessoas estão a ver cada vez menos petróleo. As más notícias são que muito do petróleo derramado ficou preso nas áreas pantanosas e, com o movimento das marés, fica colado à vegetação – e isso é suficiente para matar as plantas”, explicou a oceanógrafa da National Wildlife Foundation, Maura Wood, à agência Associated Press.

O almirante Paul Zukunft, um dos coordenadores da operação de limpeza montada pelo governo federal, confirmou que a cada voo de reconhecimento é possível constatar a redução da área de impacto do derrame. “Há muito pouco petróleo observável a partir do ar. Mas não podemos facilitar. Só porque não conseguimos ver o petróleo não podemos assumir que ele não está lá”, referiu.

Segundo a agência atmosférica e oceanográfica NOAA, três quartos do petróleo derramado no golfo do México já foram eliminados. O acidente do Deepwater Horizon foi o pior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, cinco vezes pior do que a maré negra provocada pelo cargueiro Exxon Valdez no Alasca em 1989, e cujo impacte ambiental ainda se faz sentir.

O poço da BP já está enterrado, mas a morte do derrame ainda não foi confirmada

É o princípio do fim para o poço de onde parecia sair todo o negrume do mundo para os habitantes da costa do Golfo do México: o poço da BP que rebentou quando a plataforma petrolífera Deepwater Horizon explodiu, a 20 de Abril, está finalmente tapado. Mas só estará mesmo morto e enterrado quando estiverem terminados os poços alternativos, em meados de Agosto. Entretanto, surgiu a boa notícia de que três quartos dos 4,9 milhões de barris de petróleo que foram derramados naquela zona do Atlântico foram já eliminados


Durante oito horas, na madrugada de quarta-feira, a BP foi injectando um líquído pesado (cada litro pesa 1,56 quilos, nas contas do site da revista New Scientist), que na gíria da indústria petrolífera se chama “lama”, para dentro do poço acidentado, a 1500 metros de profundidade, no fundo do mar. O objectivo era selar o túnel por onde o petróleo vinha, do interior do planeta.

“Não queremos que saia nada desta tumba”, ironizou o secretário da Energia norte-americano e Nobel da Física Steve Chu, profundamente envolvido na resolução da crise provocada pelo maior derrame acidental de petróleo da história.

Depois de, no dia 15 de Julho, ter conseguido colocar novas válvulas que fizeram com que o poço deixasse de derramar petróleo, a operação correu como mandam os manuais. A BP chamou-lhe “um marco”, numa comunicado de imprensa divulgado no seu site. “O poço está a ser monitorizado, para garantir que se mantém estático”, adianta a empresa, no mesmo comunicado.

“Estático” é uma expressão estranha para quem está fora do meio, mas o que os engenheiros da petrolífera querem é que nada se mexa mesmo no poço Macondo, onde se deu o acidente. Que não haja espaço para gás natural ou petróleo se movimentarem ainda neste túnel, que não é apenas um buraco no fundo do mar, como dizia o jornal "The Washington Post". Tem revestimentos de aço, válvulas, sapatas e se calhar até os restos danificados do tubo por onde descia a broca de perfuração de petróleo.
A lama deverá ter feito com que a pressão no poço tenha descido até ao zero, mas o poço pode “estar só a fazer-se de morto”, nas palavras de Chu. O calor pode ter modificado o líquido pesado, por exemplo, fazendo com que o reservatório de hidrocarbonetos possa fazer pressão e expulsar o tampão de lama. “Até se pode imaginar os hidrocarbonetos a infiltrarem-se através da lama, como se fossem dedinhos”, disse Chu ao jornal de Washington.
“Estamos a analisar os números”, explicou Chu. Estar atento aos dados que vão chegando do fundo do mar é o que é essencial para decidir o que fazer a seguir. “É o que se faz em ciência”, sublinha Steve Chu.

Rolha de cimento
Algo que deve ser decidido em breve é se será despejado cimento no poço ou não. O procedimento normal para fechar um poço exigi-lo-ia. Mas se a “rolha” de cimento ficar em má posição, explicou Chu, isso pode complicar a utilização dos poços alternativos para conter o derrame, que estão a ser perfurados há três meses. “Os poços alternativos é que são a solução”, declarou o almirante da Guarda Costeira na reforma Thad Allen, responsável pela grupo de resposta de emergência federal ao acidente da Deepwater Horizon. Espera-se que estejam terminados em meados do mês.
Barack Obama bateu nesta tecla de que o Verão do grande derrame ainda não está verdadeiramente terminado: “Os esforços de recuperação têm de continuar. Temos de compensar os estragos que foram feitos. Os poluidores vão ter de pagar pela destruição que causaram. Temos de garantir que as pessoas que foram afectadas recebem indemnizações, e vamos apoiar as pessoas da região durante o tempo que for necessário, até que consigam pôr a sua vida de volta nos carris”, garantiu o Presidente dos Estados Unidos.

Três quartos eliminado
Mas enquanto transmitia a mensagem de que a crise não terminou ainda, a administração Obama divulgava ontem um relatório, da responsabilidade da NOAA, a agência responsável pelos oceanos e a atmosfera, em que se dizia que três quatros dos 4,9 milhões de barris de petróleo (qualquer coisa como 779.037 milhões de litros) derramado nas águas do Golfo do México desde 20 de Abril tinham já sido eliminados.
O uso maciço de dispersantes quiímicos — que está ainda debaixo de fogo e está a ser investigado pelo Congresso — foi responsável pela dispersão de oito por cento dessa quantidade. Espera-se que agora o petróleo, transformado em gotas minúsculas, sejam degradadas por bactérias — mas podem também infiltrar-se em ovos e larvas de animais marinhos, não se sabe bem, porque nunca foram usados desta forma intensiva, abaixo da linha de água.
Quanto aos restantes 75 por cento retirados da água, repartem-se desta forma: 25 por cento evaporaram-se ou dissolveram-se naturalmente, até ao ponto de se ter tornado indetectávéis, 17 por cento foram recuperados na boca do poço, 16 por cento dispersaram-se naturalmente, cinco por cento foram queimados e três por cento recuperados à superfície (como se fossem nata do leite).
Cerca de 26 por cento persistem à superfície, ou perto da superfície, como uma película brilhante e gordurosa, ou como bolas de alcatrão, ou então já deu à costa. Pode estar ainda enterrado na areia ou nos sedimentos, a iniciar um processo lento de degradação com consequências ainda desconhecidas para o ambiente.


Fonte: Publico.pt

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