sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Fogo posto foi a causa de 22 por cento dos incêndios florestais


A negligência está na origem de 44 por cento dos fogos na floresta. Uma parte significativa não é investigada por falta de meios.

O Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR, responsável pela investigação das causas dos incêndios florestais, terminou este ano 3943 inquéritos, tendo concluído que a maioria (44 por cento) é de origem negligente. Os fogos intencionais representam 22 por cento do total e as causas naturais são responsáveis por apenas dois por cento das ignições investigadas. Não foi possível determinar a causa de um terço dos fogos.

Os números não são muito diferentes do ano passado, em que o fogo provocado por incendiários foi a causa de 26 por cento dos casos investigados. As negligências, que explicam a maioria dos fogos, são reportadas ao Ministério Público, que normalmente delega na GNR a investigação, adianta o responsável do Sepna, o tenente-coronel José Grisante. Quem provocar um incêndio florestal com um comportamento negligente incorre numa pena de prisão até três anos ou multa. Mas não há dados sobre condenações.

Quando a GNR detecta indícios de crime doloso, o Sepna reporta o caso à Polícia Judiciária (PJ), que possui competência reservada sobre este ilícito. Mas a informação recolhida pelos militares é muitas vezes relevante para as detenções. Isso mesmo é assumido pela PJ nos seus comunicados, como acontece com uma das duas detenções anunciadas ontem. A Directoria de Lisboa e Vale do Tejo "identificou e deteve, com a colaboração dos Serviços de Protecção Florestal da GNR, um homem, de 38 anos de idade, casado, ex-madeireiro e actualmente auxiliar agrícola, pela presumível autoria de três incêndios que destruíram 21 hectares de eucaliptal", na zona de Santarém, lê-se na nota. O suspeito fica obrigado a apresentar-se duas vezes por semana às autoridades. Também ontem foi anunciada a detenção de um homem de 52 anos, em Ribeira de Pena, suspeito de atear um fogo a 31 de Julho. "O arguido, com antecedentes criminais como incendiário e que agia por deslumbramento e prazer perante o espectáculo das chamas, é suspeito de ter feito deflagrar outros fogos", diz outro comunicado. Ficou apenas com termo de identidade e residência. Até ontem, a PJ deteve 24 suspeitos de incêndio florestal, 12 dos quais ficaram em prisão preventiva. Foi o caso do homem de 32 anos, suspeito de atear o incêndio de Castro Daire, que estava a cumprir pena de prisão (pelo mesmo crime), em regime de dias livres.

Mas uma parte significativa das ocorrências não é investigada por falta de meios. José Grisante garante, contudo, "a investigação de todos os fogos com uma área ardida superior a 100 hectares e mais de 80 por cento dos fogos entre os dez e os 100 hectares".

Chamas em Alijó cortaram trânsito no IP4 em ambos os sentidos

O reacendimento de um incêndio em Alijó, Vila Real, obrigou ao corte do Itinerário Principal 4, que liga Amarante a Bragança, durante perto de duas horas na tarde de ontem. Ao início da noite, o incêndio continuava com duas frentes activas numa área de mato com pinheiros dispersos, tendo passado para o concelho de Murça.

Pouco antes, o segundo-comandante operacional distrital, Almor Salvador, dava conta ao PÚBLICO de que o combate estava a correr bem e que esperava ter o incêndio dominado até ao fim da noite. "Esperemos que os ventos não nos troquem as voltas", dizia. A página da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), às 21h00, contabilizava 188 ignições ao longo do dia, quatro das quais estavam activas. Além do fogo de Alijó, que mobilizava 95 combatentes e 22 veículos, havia um outro em Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, também com duas frentes activas. Outros dois eram dados como dominados.

Um deles era o fogo que já destruiu cerca de metade da Mata do Cabril, uma das três áreas de protecção integral do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O comandante distrital de Viana do Castelo, António Antunes, explicava ao fim da tarde por que é que o incêndio que começou na sexta-feira passada ainda não estava extinto. "Neste momento, o incêndio está confinado e estamos a tentar que não saia daí, construindo um aceiro. Mas só para chegar ao fundo da encosta do Cabril os homens demoram duas horas e meia", realçou. O fogo continuava ao fim do dia com duas frentes, apesar da Protecção Civil o considerar dominado. "Uma virada a Noroeste, com início na linha de água, a ser contida por um aceiro, com o apoio de uma máquina de rasto e pessoal apeado, e uma segunda virada a nordeste", lia-se no site da ANPC.

PSD pede medidas

O líder do PSD quer saber como será defendida a área que ainda não ardeu neste Verão para não se repetirem erros do passado. De visita à área ardida em S. Pedro do Sul, Passos Coelho pediu ontem alterações à utilização económica da floresta e, citado pela Lusa, criticou "a fraca intervenção" dos ministérios da Agricultura e do Ambiente no ordenamento do território.

Fonte: Publico.pt

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