O monte submarino Condor, ao largo da ilha do Faial, é a primeira paragem da missão científica que ontem largou da Horta, a bordo do navio oceanográfico Gago Coutinho, da Marinha Portuguesa. É por ali, a 22 milhas de terra, que o navio vai estar até amanhã, para os investigadores do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, que promovem a missão, fazerem o trabalho a que se propuseram nesta primeira etapa. Mapear e caracterizar as comunidades de corais a várias profundidades.
Dali, a missão segue para o monte submarino Voador, mais distante, a 123 milhas do Faial. E os corais frios - vivem em águas muito profundas, a baixas temperaturas - são mais uma vez o principal objectivo. "A ideia é estudar a interacção destes organismos com as pescas", adiantou ao DN o biólogo e director do DOP Ricardo Serrão Santos.
A equipa vai recolher imagens e amostras para fazer um retrato tão exaustivo quanto possível das comunidades de corais frios que povoam o fundo nos dois montes submarinos, a diferentes níveis de profundidade: 300, 500, mil metros, e mesmo mais. "Podemos ir até aos 1500 metros", diz Serrão Santos.
Para isso, os investigadores a bordo do Gago Coutinho vão usar o ROV submarino Luso, que recolherá imagens de alta definição e amostras biológicas e geológicas.
Em águas muito profundas, onde a temperatura é muito baixa, os corais frios organizam-se em comunidades, sob a forma de recifes, agregando-se em estruturas extensas, ou juntando-se em jardins, como lhes chamam os biólogos. Aí parecem-se mais com arbustos, emergindo do fundo arenoso. Mas, recifes ou jardins, estas comunidades albergam uma grande biodiversidade - além da sua própria riqueza de espécies.
"Nos Açores estão descritas mais de 150 espécies de corais frios", conta o director do DOP. E as coisas não vão ficar por aqui. Os investigadores dos Açores estão neste preciso momento a finalizar a descrição de três novas espécies deste tipo de corais e é bem possível que nesta missão, que vai durar dez dias, também haja novidades nessa frente. Mas só depois de regressarem a "casa" os biólogos poderão fazer os estudos necessários para essas verificações.
Dada a biodiversidade que agregam, os corais são alvos prioritários da conservação. Por isso, conhecer detalhadamente essas comunidades e os impactos que a pesca tem nelas, é fundamental para que a própria actividade pesqueira possa ser sustentável.
"A ideia é conhecer a situação para podermos encontrar soluções para os problemas que identificarmos", adianta Ricardo Serrão Santos.
No próximo dia 15, quando o Gago Coutinho regressar ao Faial, a equipa espera levar consigo "uma boa caracterização das comunidades de corais", mas também materiais biológicos que permitam depois, no laboratório, fazer estudos de genética e de microbiologia sobre estes delicados organismos marinhos. Uma das linhas de trabalho é a identificação de genes protectores das ameaças ambientais.
Condor fechado à pesca para estudo
O monte submarino Condor, onde a missão estará até amanhã, é um caso particular. Por proposta do DOP, da Universidade dos Açores, e depois de um ano de negociações que envolveram o Governo regional e a comunidade de pescadores, foi acordado fechar a zona à actividade pesqueira por dois anos. Isso está em vigor desde Maio, o que vai permitir fazer um estudo intensivo sobre aquela zona. "Já colocámos instrumentação oceanográfica e estamos a fazer a monitorização sistemática de vários aspectos", explica o director do DOP, Ricardo Serrão Santos. Medir correntes, recolher sedimentos e amostras biológicas e seguir as movimentações dos cetáceos, através hidrofones, e as deslocações dos peixes previamente marcados com emissores acústicos, são algumas das actividades em curso.
Fonte: Diário de Notícias
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