O fogo e a biodiversidade não são inimigos. Esta foi uma das mensagens deixadas ontem por Navashni Govender, responsável pelo departamento de Fire Ecology do Parque Kruger, na África do Sul, durante a conferência sobre biodiversidade, florestas e gestão do fogo, que se realizou no BESArte & Finança, em Lisboa.
“O fogo é uma das formas de melhorar a paisagem…. Renova o material que está a morrer, controla os arbustos e altera a estrutura de vegetação, por exemplo”, referiu a Govender, que gere o projecto “Burning for Biodiversity [“Queimando pela biodiversidade”, em português] ”, e é responsável por um investimento anual, só para investigação, de 25 mil euros.
Segundo a responsável, o Parque Kruger investiga a influência do fogo na biodiversidade desde 1957, tendo mudado várias vezes de estratégia. “Descobrimos que 50 anos de fogos não tiveram efeito na riqueza e abundância das espécies”, explicou. “O fogo é importante para a paisagem, sobretudo nas savanas”, continuou.
“É preciso gerir a necessidade de termos fogos”, referiu ainda Govender.
Também presente na conferência, Francisco Castro Rego, professor do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa e coordenador do Centro de Ecologia Aplicada Professor Baeta Neves, começou por dizer que a experiência do Kruger pode ter uma “solução de abordagem igual” no território português. Isto “apesar de serem continentes e ecossistemas diferentes”.
Depois, Castro Rego disse que é preciso “encontrar equilíbrios entre o fogo, o pastoreio e a vegetação”. “A gestão e intervenção do território, no caso do Kruger, não teve que esperar pelos resultados da pesquisa. Foi feito tudo ao mesmo tempo e é assim que deve ser”, disse.
Finalmente, o professor explicou que este laboratório sul-africano “é único no mundo”, não só porque funciona há quase 60 anos mas também pela lógica e dispositivo de pesquisa.
“Pode utilizar-se o fogo para gerir a biodiversidade. É esse o objectivo, gerir a biodiversidade”, continuou o professor, que referiu ainda que Portugal está 50 anos atrasado na gestão das áreas protegidas, biodiversidade e ecossistemas.
Já no final da conferência, Tito Rosa, presidente do ICNB (Instituto da Conservação da Natureza & Biodiversidade) alertou, em forma de crítica, para o facto de ser mais fácil “comprar um carro de bombeiros” do que “contratar um cientista”, mas é “isso que temos que fazer, começar a criar escola”.
O evento decorreu na sequência do ciclo de conferências Futuro Verde, uma iniciativa do ICNB com o apoio do BES.
Fonte: Greensavers
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