terça-feira, 2 de agosto de 2011
«Ciência Hoje» acompanha expedição MarPro a bordo do Santa Maria Manuela
Editado por
APGVN
terça-feira, agosto 02, 2011
Na manhã do terceiro dia de viagem já está tudo mais calmo de cabeça e de estômago. No convés, as três equipas de observação da campanha MarPro – de aves, cetáceos e lixo - trabalham a cem por cento, apesar do céu nublado. E é a das aves a que se encontra mais entusiasmada com os avistamentos.
Joana Andrade, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que faz equipa com Nuno Oliveira também da SPEA, Rui Pedro, um jovem voluntário da SPEA, e Carlos Santos, do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), confirma que já foram avistados cagarros, painhos e garajaus. De repente, a voar rente ao mar, mais um cagarro.
Escolhida para espécie do ano de 2011 por aquela instituição, este pássaro tem sido sistematicamente estudado. “Há cagarros nos Açores e nas Berlengas. Estas aves nidificam nas ilhas mas percorrem longas distâncias à procura de comida. Este deve ser das Berlengas”. A SPEA faz trabalhos de monitorização de seguimento desta ave há vários anos.
“Como disse que se chama aquele pássaro?”, perguntam dois marinheiros que realizavam alguns trabalhos de manutenção. “Depende das zonas... cagarro, cagarra, antigamente no continente chamava-se pardela de bico amarelo, mas já não se usa...”, explica Carlos Santos.
Ficamos então a saber que o mesmo cagarro é também um óptimo “petisco”, pelo menos segundo o marinheiro Magano, que lida com o mar há 35 anos. “Agora é proibido apanhar”, refere, “mas lembro-me de quando comecei a trabalhar no mar, em 1976, havia dessas aves às centenas. São tão boas, em vinha de alhos de um dia para o outro...”.
Manuel Magano é um dos marinheiros mais carismáticos do Santa Maria Manuela. A cara enrugada tanto mostra um sorriso aberto como um semblante fechado de desconfiança. É um homem descontraído e desbocado, que gosta de falar de si próprio.
“A minha vida foi sempre esta desde os 17 anos”, conta este natural de Ílhavo que viu o pai morrer no mar e que já enfrentou várias vezes a morte. Um dos momentos mais dramáticos de que se lembra foi de uma viagem à Terra Nova, quando andava na pesca do bacalhau. “Numa rebentação partiram-se sete costelas (do barco) a bombordo. Tivemos de passar a tempestade a fazer remendos para o barco de aguentar até chegar a terra”.
Depois do bacalhau nas ilhas frias do Canadá, Magano foi mais para sul apanhar camarão na Guiné-Bissau. A isso se dedicou nos últimos anos, até entrar como membro da tripulação do Santa Maria Manuela, onde também já apanhou um valente susto. Foi na última viagem para o Canadá. No regresso, já depois dos Açores, apanhamos uma tempestade de vários dias, “mas este navio aguenta-se bem”.
Por Luísa Marinho (texto e foto)
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