quinta-feira, 8 de março de 2012

Alvão: Ritual de sobrevivência com milhões de anos


    Voluntários vão ajudar sapos e salamandras do Alvão a atravessar a estrada

    É um ritual de sobrevivência com milhões de anos aquele que, nesta altura, leva os anfíbios a sair da hibernação e a procurar zonas de água para reprodução. No Alvão, há uma estrada no seu caminho. Dezenas de voluntários vão torná-la menos ameaçadora.
Nos dias 9 e 10 de Março, dezenas de cidadãos de Vila Real vão construir um muro com 40 centímetros de altura, dos dois lados da estrada nacional EN313 – que liga Vila Real a Lamas de Olo –, num troço de 1400 metros. “Esta estrada já tem uma série de passagens hidráulicas por baixo da estrada. Aquilo que vamos fazer é construir um murete que conduza os anfíbios até essas passagens, para diminuir a mortalidade acidental por atropelamento, que no ano passado foi muito elevada”, disse ao PÚBLICO Carlos Lima da Divisão de Planeamento da Câmara Municipal de Vila Real. A iniciativa “Salvemos os Sapos” já tem confirmadas 50 pessoas para sexta-feira mas as inscrições ainda estão abertas.

“Nesta altura do ano, havia voluntários a transportar manualmente os animais de um lado para o outro da estrada. Mas isso não funcionava”, comentou. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) monitorizou aquele troço da EN313 e concluiu que a mortalidade acidental por atropelamento é “muito elevada”, acrescentou Carlos Lima. Especialmente para o sapo-comum (Bufo bufo), o sapo-corredor (Bufo calamita) e a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), esta última espécie endémica da Península Ibérica e classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Agora será construído no troço mais sensível da estrada um murete de betão, coberto com pedras locais para melhor integração na paisagem. Mas esta intervenção já está em contagem decrescente. “Não temos muito tempo”, disse Carlos Lima, que lembrou que os animais estão prestes a começar a migração de zonas mais elevadas, e secas, onde passaram o Inverno, em hibernação, até aos charcos temporários e turfeiras perto da barragem do Alvão para se reproduzirem.

A iniciativa surge no âmbito do projecto SeivaCorgo – uma das vertentes do Programa da Biodiversidade de Vila Real – e conta com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e Parque Natural do Alvão e com o co-financiamento do Programa Operacional Regional do Norte (ON2).

O Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal, de 2010, lista 17 espécies de anfíbios, espécies especialmente sensíveis às alterações climáticas e às perturbações nos padrões de precipitação. Carlos Lima informou que, por enquanto, a seca que afecta todo o território de Portugal Continental, ainda não está a ter efeitos nas populações de anfíbios daquele concelho. “Na última saída de campo que fizemos, os charcos temporários estavam, pelo menos, húmidos. E a barragem do Alvão tem níveis de água assinaláveis”, constatou.
Fonte: Helena Geraldes/Público

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