terça-feira, 13 de março de 2012

Apanhar sementes para reflorestação é uma ocupação lucrativa no Brasil


    O Governo brasileiro, que em tempos encorajou a desmatação de vastas zonas do interior do país para criar terrenos agrícolas, exige agora que a floresta original seja replantada. E, com esta política, criou um nicho de emprego.
Apanhar sementes das espécies nativas passou a ser uma actividade interessante: em seis meses, pode-se ganhar perto de 14.500 euros. Muitos dos que agora estão a ajudar a salvar a floresta passaram os anos anteriores a trabalhar para quem a mandava destruir.

A CNN foi encontrar Santino Sena numa zona pantanosa, vagueando com água pelo joelho e recolhendo as sementes que vogam à tona. A associação sem fins lucrativos Instituto Sócio-Ambiental (ISA) estima que haja cerca de 300 pessoas envolvidas nesta tarefa, incluindo famílias índias e antigos madeireiros ilegais.

O ISA definiu uma lista de 210 espécies vegetais nativas que podem ser usadas na reflorestação e os recolectores, como Santino, aprenderam a diferenciá-las. Depois de as apanharem, entregam-nas em armazéns, onde ficam guardadas em câmaras frigoríficas à espera de compradores - que, normalmente, não demoram muito a aparecer.

“Dantes, tínhamos de andar atrás dos agricultores a pedir terras para os nossos projectos-piloto”, explicou à CNN o coordenador do ISA, Nicola Costa. “Agora é ao contrário. Os agricultores é que nos procuram.” Esta inversão de comportamentos fica, em grande parte, a dever-se à decisão das autoridades brasileiras de condicionar a concessão de empréstimos e acesso a mercados ao cumprimento de metas de reflorestação.

De repente, voltar a plantar espécies nativas no seu cenário natural passou a ser um bom negócio. “Muitas destas sementes vão para terras que eu próprio ajudei a limpar”, constata Santino Sena. E essas terras desmatadas abriram caminho à erosão e à seca, potenciaram a contaminação do solo e das linhas de água com fertilizantes. Os grupos indígenas do Parque Xingu foram os primeiros a pedir ajuda – segundo eles, indica Ianukula Kaiabisuia, coordenador do parque, “o simples acto de nadar no rio causava-lhes irritações na pele”.

O maior esforço de reflorestação está a ser concentrado nas margens dos rios. Mas a CNN encontrou um agricultor, Amândio Micolino, que assumiu o desafio de replantar a floresta nativa numa porção significativa do seu rancho de 400 hectares. “Quero deixar alguma coisa às gerações futuras, quero que percebam como as coisas eram há 50 ou 100 anos.”

Ele ainda é uma excepção. O Brasil tornou-se numa potência agrícola mundial virando costas ao ambiente e a situação só agora começou a inverter-se. Graças, também, ao labor dos recolectores de sementes, como Santino: “Não desisto deste trabalho nem por nada! Sabe muito bem sentir que estou a criar qualquer coisa.”
Fonte: Luís Francisco/Público

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