quarta-feira, 10 de julho de 2013

Índios sul-americanos formados como parabiólogos

Está em curso um programa de formação de índios sul-americanos do Gran Chaco como "parabiólogos". O objetivo é dar um modo de subsistência alternativa à safra de cana-de-açúcar aos nativos e torná-los partícipes da conservação da segunda maior área selvagem da América do Sul.
“Estas pessoas fazem parte do ambiente natural; elas pertencem a esta terra. Se elas não forem envolvidas, não vejo como podemos conseguir conservar a biodiversidade desta área a longo prazo”, revela Erika Cuéllar, impulsionadora do projeto, ao diário britânico The Guardian.

O Gran Chaco é uma vastidão de um milhão de quilómetros quadrados de floresta seca e matos baixos que se estende por uma área que abrange parte dos territórios da Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai.

Trata-se de um ecossistema com grandes flutuações de temperatura sazonais e em que a água é escassa, mas que é constituído por 3.400 espécies de plantas, 500 de aves e 150 de mamíferos, de que são exemplo o jaguar, o puma ou papa-formigas gigante.

Este éden está em perigo, ameaçado pela expansão das quintas de criação de gado, plantações de cana-de-açúcar e soja, e pelo tráfico de drogas. Mesmo a área mais bem preservada, dentro das fronteiras bolivianas e abrangida pelo Parque Nacional de Kaa lya del Gran Chaco (Bolívia) está a ser destruída pela instalação de um gasoduto e pelas operações militares de combate ao narcotráfico.
O programa de 400 horas dirigido por Erica Cuéllar forma jovens índios Guarani, Ayoreo e Chiquitano como "parabiólogos" (termo usado pela própria Erika Cuéllar), tornando-os aptos a realizar tarefas que vão desde a elaboração de projetos à recolha de dados e apresentação de resultados.

“[Os indígenas] são as melhores pessoas para nos dizer o que está a acontecer no Chaco”, considera Erika Cuéllar, bióloga de ascendência Guarani que se doutorou em Oxford. “Eu quero dar-lhes a opção de permanecer na área que conhecem”.

A formação permite-lhes participar nos projetos de conservação levados a cabo na área auferindo um salário mensal de 3.500 bolivianos, ganhando o seu sustento ao mesmo tempo em que participam na conservação da biodiversidade que suporta as suas comunidades, que caçam de forma sustentável.

 “Como um Guaraní indígena, ser um parabiólogo ajudou-me a proteger a minha comunidade”, refere Jorge Segundo, líder da povoação e o "parabiólogo" mais experiente do grupo de 17 técnicos.

O mérito do projeto já foi reconhecido a nível internacional, tendo Erika Cuéllar sido distinguida com o Rolex Award for Enterprise em 2012.

Fonte: Filipa Alves

0 comentários:

Enviar um comentário