domingo, 14 de agosto de 2016

Posição da APGVN sobre os incêndios florestais em Portugal


A APGVN entende que é necessário olhar para o passado, agir no presente de forma a preservar o futuro.
Não foram apenas as populações que deixaram o interior rumo ao litoral, o estado foi também nas últimas décadas abandonando sucessivamente o interior e consequentemente o património natural, nomeadamente a floresta.
E fê-lo de várias maneiras:
1º Permitiu e permite, que os interesses económicos se sobreponham ao bem público, nomeadamente com a contínua permissão da erradicação da floresta mediterrânica beneficiando o sucessivo aumento da área de eucalipto.
2º Foi ao longo das últimas décadas tendo políticas de esvaziamento de meios humanos e materiais dos serviços públicos com a tutela das florestas e da conservação da natureza.
Ora vejamos:
Os Guardas Florestais trabalhavam e vivam na floresta (atualmente as suas casas assim como as florestas, inclusive as matas nacionais estão ao abandono), conheciam o seu cantão como ninguém, conheciam os proprietários das parcelas, porque vivam e conviviam com eles.
Existiam também os Guarda Rios (também com os seus cantões), que convenciam os proprietários marginais da linhas de água a limparem regularmente as suas margens (e perguntamos, como chegaram os Incêndios ao centro do Funchal?).
De início, as instituições foram puxando e fixando estes funcionários, nas sedes ou direções regionais, que funcionam normalmente nas capitais de distrito. Aqui começou a perder-se o conhecimento que foi sendo adquirido ao longo dos anos.
Depois, nos anos noventa do século passado, foram extintos os Guarda Rios e passaram para a carreira de Vigilante da Natureza, e mais recentemente os Guardas Florestais passaram para a GNR.
Já os Vigilantes da Natureza nos últimos 15 anos viram o seu efetivo reduzido em 50 %.
É assim fácil de concluir que os sucessivos governos têm abandonado as nossas florestas, assim como as nossas áreas protegidas.
O património Natural Nacional é um bem público, com enorme potencial económico (cortiça, pinhão, etc.) e turístico. Não é apenas o eucalipto que tem valer económico.
Com a passagem dos Guardas Florestais para a GNR e com a fusão da Autoridade Florestal Nacional com o Instituto da Conservação da Natureza, foi criado o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas sendo os Vigilantes da Natureza o seu corpo de Fiscalização.
É importante e urgente o reforço de efetivos nesta carreira, bem como é necessário o reforço das suas competências, para que exista novamente uma grande proximidade entre os Serviços Públicos com a tutela das Florestas e Conservação da Natureza e o meio rural e florestal e com as populações residentes.
Para gerir a floresta e as áreas protegidas, não basta apenas criar legislação que aplique coimas. É também necessário existir um conhecimento técnico e até cultural, na Vigilância e Fiscalização destas áreas.
É também necessário o reforço das equipas de sapadores florestais.
É imprescindível que o ICNF tenha um reforço de meios e de políticas, de forma a poder dar resposta às necessidades estruturais que o país necessita no que respeita à gestão do património Natural Nacional.
Os Gabinetes dos serviços desconcentrados do ICNF estão vazios, porque não há funcionários. É necessário inverter esta situação, o ICNF existe porque existem Florestas e Áreas Protegidas, é indispensável retomar a capacidade local de agir e gerir os espaços florestais e áreas protegidas.
Na prática acontece que o ICNF emite um parecer para um ato florestal e não têm a capacidade de verificar no terreno se esse parecer é cumprido ao não. São plantados hectares e hectares de eucaliptos de forma ilegal e não existe capacidade de fiscalizar, simplesmente porque não existem meios humanos para isso. E quando essas infrações são identificadas, os serviços não têm uma capacidade rápida de agir e de compelir as pessoas a repor a situação inicial.
A APGVN defende que para cumprir cabalmente as funções que estão atribuídas aos Vigilantes da Natureza, tendo em conta a área de atuação, seriam necessários no mínimo 700 Vigilantes da Natureza e em comparação com a vizinha Espanha ainda seria um número abaixo da média.
É necessário trabalhar seriamente e arduamente de forma estrutural na prevenção dos Incêndios florestais, sendo que nas últimas décadas, apenas se atua no combate e quando passa o verão os sucessivos governos esquecem tudo o que dizem quando Portugal está a arder.


A Direção da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza

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