Dezenas de cientistas portugueses e espanhóis identificaram no VI Congresso de Ornitologia as espécies exóticas invasoras como um dos maiores problemas ambientais e de ameaça à biodiversidade. Espécies introduzidas pelo Homem em ambientes naturais podem tornar-se pragas e colocar em risco a biodiversidade nacional. Este problema é ainda mais grave e notório nas ilhas de Açores e Madeira, onde algumas espécies, como o Priolo, estão ameaçadas de extinção.
As espécies introduzidas pelo Homem, quer de forma intencional quer por acidente, podem em circunstâncias particulares encontrar nos locais para onde são transportadas, condições excelentes para a sua multiplicação e desta forma rapidamente atingirem populações numerosas. Estas espécies que podem ser animais, como os ratos ou coelhos, plantas, como a acácia ou o chorão, ou insectos, podem-se tornar importantes pragas que podem provocar prejuízos para o Homem (por exemplo pragas agrícolas) ou colocar em causa a sobrevivência de espécies que apenas existem nas áreas onde foram introduzidas. A nível mundial a expansão de espécies exóticas é já considerada a segunda maior ameaça à Biodiversidade, e verifica-se que um numero cada vez maior de espécies de plantas e animais introduzidas pelo Homem se estão a tornar uma das maiores causas do desaparecimento de espécies, nomeadamente aves, muitas delas raras e únicas de locais muito específicos.
Um excelente exemplo dos prejuízos causados por espécies invasores são os efeitos das reintroduções de ratos e ratazanas em ilhas. Para além do impacto directo na qualidade de vida das populações humanas, pela destruição de culturas ou transmissão de doenças, os ratos provocam danos elevadíssimos em várias espécies de aves. Estes danos podem ser ao nível da predação de ovos e crias, mas também indirectamente através da eliminação de espécies vegetais innportantes para algumas aves.
Algumas espécies de Aves que apenas existem em Portugal e Espanha estão actualmente em risco de desaparecer por causa de espécies exóticas. Esta situação esteve hoje em debate no Congresso Ibérico de Ornitologia a decorrer em Elvas sob a organização conjunta da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e da Sociedade Espanhola de Ornitologia. Segundo Luís Costa, director-executivo da SPEA, “o combate às espécies exóticas é das acções mais urgentes e importantes para evitar o desaparecimento de muitas espécies em Portugal e Espanha, principalmente nas ilhas”. A acção das espécies introduzidas sobre as aves pode ser de formas muito diferentes, Por exemplo, através da
predação das próprias aves (ou ovos), por falta de alimento por desaparecimento de determinadas plantas causado pela expansão de espécies invasoras, ou devido a transmissão de doenças provenientes de outras áreas. A acção conjunta da SPEA com as autoridades regionais foi apontada como um exemplo de defesa da biodiversidade e uma luta pioneira e significativa no combate ao problema das espécies invasoras.
As ilhas pela sua menor dimensão territorial e por ser detentoras de uma vasta riqueza natural são das regiões mais afectadas por esta ameaça. Manuel Nogales, do Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, e um investigador de referência com base no Arquipélago das Canárias referiu que “aves como o Priolo dos Açores ou as aves marinhas das ilhas atlânticas são exemplos da urgência de actuação a nível ibérico”. A invasão de plantas introduzidas e a destruição de ninhos por ratos são as principais ameaças nestes casos. “Não investir na eliminação destas ameaças poderá ter consequências incalculáveis na Natureza e na qualidade de vida das pessoas” refere ainda Manuel Nogales.
O controlo e eliminação de espécies exóticas tem vindo nos últimos anos a ser o objectivo de numerosos projectos de conservação a nível europeu e mundial, no valor de centenas de milhões de euros. “A vigilância e controlo imediato destas ameaças é essencial e pode significar uma importante poupança de recursos financeiros” refere Luís Costa. “Em Portugal nos últimos anos tem sido realizado um importante esforço com alguns casos de sucesso, com casos de sucesso local na Serra da Tronqueira em São Miguel, o único sítio onde ainda subsistem manchas de laurissilva na ilha e o Priolo. Neste momento a guerra ainda está a ser ganha pelos invasores, mas a comunidade internacional começa a acordar para a situação catastrófica que pode acontecer e para os prejuízos económicos que daí podem resultar.” alertou.
Fonte: SPEA
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