quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Biodiversidade procura espaço nas estratégias empresariais

Apresentada no segundo semestre de 2007, pela Presidência Portuguesa da União Europeia, a iniciativa Business&Biodiversity (B&B) em Portugal reúne actualmente 49 entidades relacionadas com o mercado da biodiversidade.

Apesar de ser um número ainda modesto, o projecto vai merecer especial atenção do Instituto de Conservação da Natureza e Bidiversidade (ICNB), este ano, no âmbito do Ano Internacional da Biodiversidade.

«Vamos reforçar as parcerias da iniciativa B&B, quer através do encontro nacional anual, quer através de duas reuniões de trabalho, que já estão programadas para este ano», salienta a directora do departamento de comunicação e gestão de operações do ICNB, Anabela Isidoro.
Para já, a última entidade associada ao projecto B&B é a Cascais Natura, a agência de ambiente criada pela Câmara Municipal de Cascais. O organismo tem promovido, junto dos vários agentes sociais, institucionais e económicos da região, o conceito de desenvolvimento sustentável e de utilização sustentável das componentes da biodiversidade.

Projectos em curso
Com a missão de contribuir para a preservação, aproveitamento lúdico, turístico e pedagógico do património natural do concelho, a Cascais Natura tem em marcha dois projectos importantes de preservação da biodiversidade. Por um lado, a agência está a desenvolver um banco genético vegetal, que visa assegurar a integridade genética das espécies vegetais do Parque Natural de Sintra-Cascais. Através deste banco, o município pretende ainda forncecer material vegetal a futuras acções de povoamento e repovoamento florestal.

Gerida pela Cascais Natura, a Quinta do Pisão – Parque de Natureza, por seu lado, pretende criar condições ao desenvolvimento da vida selvagem do parque natural, tendo em conta, especialmente, as relações entre os agrossistemas e a biodiversidade associada. Esta quinta tenta compensar o declínio gradual das actividades agrícolas e pastoris, através do fomento da interacção entre a actividade humana e o espaço natural.

Preocupação empresarial ou «exercício de marketing»?
A B&B é uma iniciativa voluntária criada pela União Europeia com o objectivo de promover o relacionamento entre as empresas e a biodiversidade, com a introdução desta última nas estratégias de gestão corporativa. Como resultado, espera-se que o projecto contribua para a protecção da biodiversidade e para a redução das taxas de perda de biodiversidade.

De qualquier modo, a tentativa de chamar a atenção do mundo empresarial para a biodiversidade não é nova. Em 2004, a União Internacional para a Conservação da Natureza lançou a rede Countdown 2010, que reúne parceiros comprometidos com esforços adicionais para travar a perda da biodiversidade. «Nesse sentido, muitas entidades e empresas foram chamadas a colaborar e passaram a dar mais atenção a este tema», explica José Paulo Martins, da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. Contudo, «em termos de consequências práticas no terreno ficámos, infelizmente, muitas vezes apenas num mero exercício de marketing para muitos dos subscritores», crítica o responsável.

A Quercus tem acompanhado alguns projectos desenvolvidos no âmbito do B&B, mas para José Paulo Martins, uma verdadeira avaliação da iniciativa só será conseguida se todos os projectos desenvolvidos pelos parceiros forem analisados.

Também no caso da administração pública, o trabalho pela biodiversidade ficou aquém do esperado pela associação ambiental. «A política pública não se pode centrar unicamente na preservação de uma única espécie, o lince-ibérico», independentemente da sua importância, afirma José Paulo Martins.

Quercus protege biodiversidade
Para 2010, a Quercus tem planeadas alguns projectos específicos em prol da biodiversidade. Um deles passa por dinamizar acções de conservação da garça-vermelha, uma espécie de estatuto “em perigo” e que necessita de um conjunto de esforços para salvaguarda e melhoria do seu habitat.

Paralelamente, a associação vai avançar com um projecto para conhecer melhor a qualidade ambiental dos cursos de água, através da utilização de indicadores biológicos. José Paulo Martins salienta ainda o projecto de restauro de um troço do rio Alcabrichel, necessário para o repovoamento com exemplares de boga do Oeste nascidos nas instalações da Quercus de Campelo.

Estes projectos vão juntar-se a outras iniciativas da Quercus já no terreno. Além dos três centros de recuperação de animais selvagens, a associação tem feito um trabalho importante na conservação de organismos fluviais, na constituição de micro-reservas para preservar espécies da flora ameaçada e habitats, na criação de bosques de espécies autóctones e na avaliação do impacte das linhas eléctricas sobre a avifauna, entre muitas outras iniciativas.

Os esforços da Quercus não são, no entanto, suficientes. «Estamos muito longe de evitar o desaparecimento de muitas espécies», ressalva José Paulo Martins, enquanto insta a uma política pública com prioridades claramente definidas no domínio da biodiversidade.

Fonte: AmbienteOnline

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