sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Áreas protegidas podem salvar pinguim-do-cabo

A pesca e a fuga dos bancos de sardinha e anchova deixaram esta espécie em perigo. 

A criação de zonas marinhas interditas à pesca tem efeitos imediatos na conservação de espécies ameaçadas no topo da cadeia alimentar, como o pinguim-do-cabo, que se alimenta de peixe com interesse pesqueiro e está a perder na competição com os predadores humanos. É isso que demonstra um estudo publicado na revista científica Biology Letters.

O pinguim-do-cabo (Spheniscus demersus) - uma espécie endémica da região do Cabo, na África do Sul - sofreu uma queda abrupta de 60% entre 2001 e 2009, e em resultado disso está agora classificado como espécie em perigo.

O problema deve-se à escassez de alimento, dizem os cientistas, citados pela Science Daily. Os bancos de sardinha e de anchova, as espécies de que este pinguim se alimenta, emigraram para outras paragens e os que restaram são pescados para a alimentação humana. Mas uma experiência de um grupo de investigadores franco-sul-africanos mostra que criar zonas fechadas à pesca tem um impacto positivo imediato nas populações de pinguins.

Os investigadores do Centro de Ecologia e da universidade de Monpelier, em França, e da universidade sul-africana do Cabo, em colaboração com a agência governamental para as pescas do país africano, interditaram à pesca uma área com cerca de 20 quilómetros de raio em torno do território da maior colónia de pinguins desta espécie, na ilha de Sta. Cruz, em Algoa Bay (Port Elizabeth), desde de Janeiro de 2009.

A 50 quilómetros de distância, na mesma baía, e em volta de uma outra ilha, a Bird Island, onde reside uma outra colónia de pinguins, as actividades pesqueiras mantiveram-se inalteradas.

A equipa estudou o comportamento de procura de alimentos de 91 pinguins das duas colónias em 2008 e em 2009, ou seja, antes e depois do encerramento da área de Sta. Cruz à pesca.

Para isso foram usados aparelhos-miniaturas equipados com GPS e colocados nas costas dos animais, para registar a cada minuto a latitude e longitude dos seus percursos, além da medição da profundidade, segundo a segundo. Os dados recolhidos permitiram aos investigadores avaliar o esforço realizado por cada uma das aves na busca de alimento, com base no tempo de cada percurso, na distância percorrida e no número de mergulhos necessários e a sua profundidade.

Os resultados mostram que em 2008, antes da interdição de pesca em Sta. Cruz, os pinguins daquela colónia faziam 75% dos seus mergulhos em busca de alimento a mais de 20 quilómetros de distância da sua colónia, chegando a percorrer 150 quilómetros em apenas dois dias. Em 2009, três meses depois de a área ter sido encerrada à pesca, 70% dos mergulhos ocorriam a menos de 20 quilómetros da colónia, dentro da área marinha protegida. O tempo gasto na busca de alimento também diminuiu cerca de 30%, o que reduziu os gastos energéticos diários dos pinguins em cerca de 40%.

Na colónia irmã, em Bird Island, os pinguins mantiveram os mesmos padrões de comportamento em 2008 e 2009, mas ainda com maior dispêndio de energia por parte dos animais no segundo período de observação.

De acordo com os cientistas, esta experiência mostra que existem benefícios imediatos na criação de uma área marinha protegida para a preservação das espécies ameaçadas no topo da cadeia alimentar, e confirmou ao mesmo tempo os impactos negativos da indústria de pesca na ecologia dos pinguins-do cabo.

Fonte: Diario de Notícias

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