domingo, 21 de fevereiro de 2010

Endemismo Ibérico: Lacerta schreiberi - O lagarto de cabeça azul

Único e exclusivo da Península Ibérica, o lagarto-de-água está a desaparecer, devido à perda de 'habitat' resultante do abate da vegetação ripícola e a construção de barragens. As populações isoladas do Sul do País têm um risco acrescido. Mas há mais de 10 anos que não se faz nenhum estudo.

Pouco preocupante. É esta classificação no Livro Vermelho dos Vertebrados que explica talvez o facto de, apesar da rápida regressão das populações, o último estudo sobre o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) datar já de há mais de dez anos.

Exclusivo da Península Ibérica, este pequeno lagarto, de cabeça azul e um tom verde vivo, apenas habita em zonas com permanência de água, o que o torna vulnerável, especialmente quando ocorre em pequenos grupos populacionais isolados.

No Norte a sua distribuição é mais homogénea, mas a população tem vindo a regredir; no sul, existe em menor número, uma vez que "muitas ribeiras têm tendência a secar, logo não há água suficiente para a sua sobrevivência", explica o biólogo José Brito.

No último estudo realizado, estimou-se uma população de 47 mil indivíduos na serra de Monchique, 115 mil em São Mamede e apenas 3,7 mil na serra do Cercal (distribuídas por três ribeiras). Todas são preocupantes, uma vez que para a espécie, populações abaixo dos 500 mil indivíduos são sinónimo de algum risco.

As principais ameaças à espécie estão ligadas aos factores que perturbam as linhas de água onde os lagartos-de-água habitam: construção de barragens, "que arrasa e acaba por afundar as margens das ribeiras e rios"; abate de vegetação ripícola (vegetação típica dos cursos de água, como salgueiros, amieiros, freixos e fetos) e a sua substituição por terrenos de pastoreio ou áreas florestais); e as alterações climáticas. "Uma seca acentuada, que torne as ribeiras em cursos de água temporários, poderá levar à extinção da espécie", salienta o biólogo.

Todavia, até agora "pouco foi feito para proteger a espécie". José Brito participou num estudo exaustivo sobre o lagarto-de-água, realizado entre 1994 e 1996, com o objectivo de assinalar as áreas prioritárias para a conservação. "Identificámos medidas de gestão que deveriam ser tomadas para proteger as populações isoladas, mas tanto quanto sei, nada foi posto em prática", refere.

Um dos objectivos é voltar a analisar em breve estas populações e saber o que lhes aconteceu na última década. "A situação pode ser já preocupante no caso das populações da serra do Cercal, onde deveria ter existido um esforço de implementação suplementar das medidas sugeridas no estudo."
Amante do sol, o lagarto-de-água não hesita em mergulhar na água quando ameaçado. Com uma esperança de vida de oito anos, este pequeno réptil, que pode atingir um máximo de 12 cm, excluindo a longa cauda, alimenta-se basicamente de insectos e aracnídeos, mas também inclui na sua dieta frutas e outros pequenos lagartos.

O Lacerta schreiberi tem ainda uma particularidade que o torna único. Na época da reprodução, entre a Primavera e meados do Verão, a cabeça dos machos ganha um tom azul muito forte. Quanto mais forte, maior o sucesso entre as fêmeas. E mais atractivo também aos olhos de todos os que apreciam a Natureza. Uma razão mais para redobrar os esforços para evitar que o lagarto-de-água tenha o mesmo destino de muitas outras espécies que hoje já só fazem parte do nosso imaginário.

Fonte: Diário de Notícias

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