domingo, 14 de fevereiro de 2010

Crónicas de um Vigilante da Natureza - Francisco Correia, presidente da APGVN

O Dia Nacional do Vigilante da Natureza foi instituído há vinte anos, quando uma Fundadora da associação e na época Dirigente da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza (APGVN) apresentou em reunião de Direcção a proposta de criação do dia comemorativo da profissão.
A Vigilante da Natureza Helena Cachucho justificou a escolha do dia 2 de Fevereiro, por ter sido nesta data que ingressaram no então Serviço Nacional de Parques Reservas e Conservação da Natureza a maioria dos cerca de duzentos Vigilantes da Natureza recém formados no primeiro curso da profissão, que teve lugar no longínquo ano de 1988, na Vila de Manteigas, em pleno coração do Parque Natural da Serra da Estrela.
Desde então o Dia Nacional do Vigilante da Natureza é comemorado com grande orgulho pelos profissionais e por todos aqueles que vêm na profissão o garante da conservação da natureza e da biodiversidade no nosso país.
A APGVN está sempre na primeira linha de combate, na defesa da profissão, sendo reconhecida como tal pelas instituições governamentais e civis do nosso país, mas, existe uma faceta menos conhecida, a grande capacidade que tem demonstrado ao longo dos seus 20 anos de existência, no envolvimento com as populações que residem nas áreas protegidas. Recordo com saudade os tempos em que a APGVN organizava expedições aos locais que estavam a ser estudados e onde se projectavam a constituição de novas áreas protegidas, onde colocava em prática um dos grandes pilares da formação dos Vigilantes da Natureza, o então muito divulgado (entre os Vigilantes da Natureza) CCPL (Contacto Com a População Local). Nestas incursões ao interior do país procurávamos sentir o pulso às populações, conhecer as suas tradições, os seus anseios e a sua visão do futuro. Dedicávamos os dias de expedição na recolha de dados sobre as tradições locais e no levantamento de habitats e espécies existentes.
Na sequência das expedições efectuadas resolvemos contribuir para a campanha da organização ecologista QUERCUS que queria adquirir a propriedade denominada por “Monte Barata”, oferecendo um donativo para o projecto que foi a génese da criação do Parque Natural do Tejo Internacional.


A APGVN para além de uma associação profissional também é reconhecida legalmente como Organização Não Governamental do Ambiente, todas as suas acções têm como meta a protecção e salvaguarda da Natureza, porque só com profissionais bem equipados e motivados as nossas maravilhosas áreas protegidas poderão perdurar para que as gerações futuras possam usufruir delas.
A APGVN no Dia Nacional do Vigilante da Natureza realiza acções de Conservação da Natureza em cooperação com entidades regionais, tendo estas merecido a participação dos Dirigentes máximos do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, que reconhecem a importância destas actividades em parceria com os agentes locais, temos como exemplo a plantação e sementeira de carvalhos no projecto “ 1 Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela” que se realizou no Parque Natural da Serra da Estrela em parceria com a Associação “Amigos da Serra da Estrela”; a plantação de espécies autóctones realizada no município de Cascais em colaboração com a Agência do Ambiente de Cascais “Cascais Natura” e a recente acção de apadrinhamento de uma cabra serrana do rebanho comunitário de Chãos, que faz parte do projecto de recuperação da Gralha-de-bico-vermelho levada a cabo pela Cooperativa “Terra Chã”, pela Associação Ambientalista “QUERCUS” e pela operadora de telecomunicações “Vodafone”.
O Dia Nacional do Vigilante da Natureza de 2 de Fevereiro de 2010, contou com a participação de um grupo assinalável de profissionais, este ano as comemorações centraram-se em dois locais distintos um no território continental e outro no arquipélago da Madeira. Na ilha da Madeira os companheiros debateram numa sessão pública, aberta à comunidade escolar, o presente e o futuro da profissão. Esta sessão contou com a grande maioria dos Vigilantes da Natureza do arquipélago, os que não estiveram presentes encontravam-se em serviço nas ilhas Selvagens e nas Desertas, o que não permitiu a sua participação no local oficial das comemorações, mas assinalaram e celebraram o Dia nos seus postos de trabalho. Também no continente a participação é limitada porque existe a necessidade de garantir os serviços mínimos de vigilância nas áreas protegidas.
No Funchal (Madeira) as celebrações contaram com a presença do Secretário Regional do Ambiente e em Rio Maior com a participação do Vice-presidente do ICNB – Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, da Directora do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste e do Director Adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte.
Depois da sessão solene na sede do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e da apresentação do trabalho de investigação realizado pelo Vigilante da Natureza Francisco Barros, sobre a Gralha-de-bico-vermelho, o grupo de participantes dirigiu-se à Serra onde foi apresentado pelo Vigilante da Natureza António Frazão o projecto de recuperação da Gralha-de-bico-vermelho. Neste local procedeu-se à cerimónia de apadrinhamento da APGVN a uma das Cabras Serranas, este pequeno donativo é importante para ajudar a manter este projecto fundamental, que pretende através da utilização de práticas antigas de pastoreio devolver à Gralha-de-bico-vermelho o habitat de que necessita para que a espécie prospere.
Durante a tarde os participantes percorreram os locais propícios para a alimentação da espécie e à contagem dos indivíduos de um bando de Gralha-de-bico-vermelho que nos brindou ao entardecer. Já ao anoitecer visitámos um pequeno atelier artesanal onde a Dona Adélia produz os seus maravilhosos chás e os seus magníficos licores, todos estes produtos são concebidos com o seu saber e conhecimento de anos dedicados ao estudo das plantas das serranias que circundam a sua habitação.
Estes contactos com as pessoas que vivem nos locais que nós queremos proteger são de facto o culminar da nossa dedicação à Conservação da Natureza e da Biodiversidade, trazer para o nosso lado as gentes que habitam as áreas protegidas é um passo de gigante no caminho do sucesso para a preservação destes sítios únicos e inigualáveis do nosso país.
O Dia Nacional do Vigilante da Natureza simboliza o nosso trabalho, dedicação e sacrifício na defesa da Natureza.

Não encontramos uma razão para desistir!
Não encontramos um motivo para deixar de sonhar!


Texto: Francisco Correia


Celebração do Dia Nacional do Vigilante da Natureza 
 Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros

Sessão solene em Rio Maior, Sede do PNSAC: V.N. Francisco Barros; Vice-presidente do ICNB, Dr. Carlos Figueiredo; Directora do DGAC LLO, Eng^Sofia Silveira; Presidente da APGVN, Dr. Francisco Correia 


Apresentação do trabalho de investigação realizado pelo Vigilante da Natureza Francisco Barros, sobre a Gralha-de-bico-vermelho no PNSAC

Chegada á cumeada da Serra dos Candeeiros

Apresentação do projecto "Conservação da gralha-de-bico-vermelho na Serra dos Candeeiros" pelo V.N. António Frazão

Cerimónia de apadrinhamento de uma cabra serrana do rebanho comunitário.
Entrega de Certificado de Apadrinhamento pelo Pastor da Cooperativa Terra Chã, Joaquim Neves

Foto de grupo após o almoço no restaurante da Cooperativa Terra Chã.

Saida de campo para prospecção de zonas de alimentação da Gralha-de-bico-vermelho e contagem de bandos

Bando de Gralhas-de-bico-vermelho, observado ao final da tarde.

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