A candidatura da Arrábida a Património Mundial Misto da UNESCO deve ser formalizada em 2011. O processo é conduzido pela Associação de Municípios da Região de Setúbal, que aprova hoje o seu primeiro instrumento de trabalho.
A constituição da comissão executiva, que se concretiza hoje "é o ponto de partida para a nova fase da candidatura a património misto da Humanidade", avançou ao JN o presidente da associação, Alfredo Monteiro, lembrando que, após a inclusão da Arrábida, em Maio de 2004, na lista indicativa portuguesa na componente natural será agora necessário reformular, com a colaboração do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, os argumentos de candidatura abrangendo elementos culturais e imateriais.
Um projecto de todos
"Iremos aferir depois com a UNESCO se a candidatura neste novo âmbito está no bom caminho", nota o responsável, realçando que "este é um projecto de todos, da região e do país".
Apesar de não se querer comprometer com prazos, porque ainda há muito trabalho a fazer para sustentar técnica e cientificamente o dossiê, Alfredo Monteiro estima que "em 2011 haverá condições para formalizar a candidatura".
O presidente da Comissão Nacional da UNESCO avisa que "é um caminho muito longo e muito trabalhoso". Contudo, Fernando Guimarães considera que "esse trabalho é importante independentemente do resultado".
Um dos pontos fortes da Arrábida é a flora, tendo sido identificadas já 1450 espécies, muitas delas raras, numa vegetação marcadamente mediterrânica. "É dos poucos sítios onde tem tudo ao mesmo tempo: flora, fauna, geologia, pegadas de dinossauros, arquitectura civil, erudita, popular, saloia, religiosa e militar e fenómenos religiosos", realça o historiador Heitor Baptista Pato, frisando que em termos imateriais o Cabo Espichel é uma das maiores valias.
Isto porque a partir de 1430 foi instituído pelos sírios saloios, da margem Norte do Tejo, um sistema de organização de romarias de devoção à Nossa Senhora do Cabo Espichel. "Em cada ano uma freguesia (havia 30) era responsável pelo culto à senhora. É algo único em Portugal e na Europa inteira", explica.
Diversidade geológica
A época em que os continentes se separaram também está inscrita nos rochedos da Arrábida, sendo por isso a geologia outras das componentes da candidatura. "Está tudo à mostra e os geólogos têm aqui uma boa hipótese de estudo e de investigação. A diversidade de processos geológicos expostos é enormíssima, o que dá à Arrábida um aspecto de raridade", revela o geólogo José Carlos Kullberg, da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa.
Em termos de fauna, o destaque vai para algumas espécies raras de morcegos, para a águia-de-bonelli, que está em vias de extinção, e para a comunidade de golfinhos do Estuário do Sado. "A Arrábida tem uma comunidade animal que é muito próxima da da Península Ibérica. A fauna não tem a importância da flora, que é tremendamente importante nesta candidatura", reconhece o biólogo Jorge Palmeirim.
Fonte: Jornal de Notícias
segunda-feira, 15 de março de 2010
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