Como em quase tudo, é na parte escondida, ou ainda ignorada, que se oculta frequentemente a maior riqueza. É assim nos oceanos, onde 50 a 90 por cento da biomassa, ou da vida, é microbiana e, portanto, invisível aos olhos. A conclusão é de uma equipa de biólogos envolvida na elaboração do catálogo mais completo de sempre da vida marinha, o Census Marine Life, cujas conclusões finais serão apresentadas a 4 de Outubro.
Micróbios, zooplâncton, larvas minúsculas, pequeninos seres dos fundos marinhos, todos eles formam em conjunto uma impressionante variedade de vida oceânica que até agora permanecia insuspeita na sua dimensão. Coordenada por biólogos da universidade de Washington, em Seatle (EUA), e do Marine Biological Laboratory, de Massachusetts, no mesmo país, a inventariação desta vida invisível dos mares é uma das linhas de fundo do censo ainda em curso (ver caixa).
"O número total de espécies microbianas marinhas, incluindo as bactérias e os microrganimos unicelulares não nucleados [sem núcleo celular] está provavelmente muito próximo dos mil milhões", adiantou John Baross, da Universidade de Washington e um dos autores do estudo dos seres microscópicos.
Diferenciar todos estes seres minúsculos uns dos outros passou em grande parte por análises genéticas e moleculares, que permitiram fazer a verificação das espécies e descobrir muitas novas.
Feitas as contas, este mundo microbiano dos oceanos constitui entre 50 a 90 por cento da sua biomassa total e o seu peso global poderá ser equivalente a 240 mil milhões de elefantes africanos, de acordo com a estimativa dos biólogos. Dito de outra forma, por cada habitante da Terra, "há 35 elefantes de micróbios marinhos", afirmam os cientistas.
"A amplitude das descobertas na fauna marinha foi de longe a maior no que diz respeito ao mundo microbiano", sublinhou por seu turno Mitch Sogin do Marine Biological Laboratory.
Recorrendo aos métodos tradicionais de avaliação morfológica, os cientistas tinham identificado 20 mil géneros de micróbios marinhos diferentes, mas foi o recurso à análise genética, através de sequenciação dos ADN, que permitiu levantar o véu sobre a enorme riqueza da vida minúscula que pulula nos oceanos. Este conhecimento abre uma nova janela para se compreender a importância de todas estas espécies na cadeia alimentar da Terra, no ciclo do carbono e noutras funções fundamentais que ocorrem no planeta e na vida que o povoa.
Esta biomassa marinha, dizem os cientistas, é responsável por 95 por cento da "respiração oceânica", que por sua vez mantém as condições para a existência de vida no planeta.
Fonte: Diário de Notícias
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