Grupos indígenas do Brasil preparavam-se para ocupar o local onde está prevista a construção da megabarragem de Belo Monte, na Amazónia, depois do empreendimento ter ultrapassado uma série de desafios legais e ter sido aprovado.
"Estamos prestes a partir e esperamos ocupar já o território", disse um líder local à agência francesa AFP. "Vamos construir uma aldeia permanente e não vamos de lá sair."
A barragem de Belo Monte, um projecto com 20 anos que os sucessivos governos não conseguiram levar avante, seria a terceira maior do mundo. O Presidente Lula da Silva defende a sua construção pela necessidade de energia limpa e barata, e lembra que as necessidades energéticas do país vão aumentar 2,5 vezes até 2030. Alguns responsáveis locais defendem o projecto pela geração de emprego: 18 mil empregos directos e 80 mil indirectos, estima o Governo.
Os críticos dizem que a obra vai custar mais do que o orçamentado (o Governo fala em 19 mil milhões de reais, cerca de 8 mil milhões de euros; as empresas estimam um mínimo de 30 mil milhões de reais, quase 13 mil milhões de euros) e que a derrapagem será paga pelos contribuintes brasileiros (quem venceu o concurso para a construção é um consórcio de empresas públicas), que o máximo da produção apenas será conseguido três meses por ano, e que as cerca de 800 comunidades de índios que moram à beira do rio Xingu vão ser duramente afectadas, perdendo os peixes essenciais à sua sobrevivência e ficando isoladas de comunidades vizinhas.
Os índios contam com o apoio de várias organizações ambientalistas como a Greenpeace e algumas figuras internacionais, como o realizador James Cameron, a actriz Sigourney Weaver ou o cantor Sting. Luiz Xipaya garantiu à AFP que a luta contra o projecto não acabou com a aprovação do consórcio para a sua construção. Cerca de 150 índios vão-se instalar agora no local, contou Xipaya, e vão receber reforços: no final do mês, deverão já ser 500 e finalmente chegarão a mil, antecipa.
A construção da barragem não está garantida, apesar de o concurso para a sua construção ter acabado por se efectuar, superando duas acções judiciais que ameaçaram a sua realização até à última hora. O especialista em energia Edmar Almeida disse ao jornal Estado de São Paulo que, "se o Governo não for muito voluntarioso", a complexidade da obra traz risco de atrasos e estes "podem afectar as tarifas e inviabilizar a obra". O Governo tem estado "totalmente empenhado", acrescentou Almeida. "Mas temos uma eleição", avisou.
Fonte: Publico.pt
sexta-feira, 23 de abril de 2010
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