domingo, 9 de maio de 2010

Inverno chuvoso pode agravar época de incêndios florestais

O Inverno chuvoso obrigou agricultores a adiarem as queimadas nos seus terrenos e contribuiu para uma maior biomassa nas florestas. Peritos em fogos apontam estas como as principais razões para uma época de incêndios florestais que se pode torna preocupante.

Hermínio Botelho, do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), considera que as queimadas que “ficaram adiadas e com certeza vão ocorrer a partir de agora” são a questão mais “complexa e difícil de gerir”.

No mundo agrário é muito comum a utilização do fogo para, por exemplo, renovação de pastagens.

“Se reduzirmos, durante o Verão, o número de focos de incêndios relacionados com a actividade agrária, é provável que, no futuro, possamos reduzir o número de ocorrências e naturalmente a área ardida”, salientou.

Outra consequência do Inverno chuvoso é que vai haver mais biomassa nos matos e florestas, no entanto, “isso não significa que essa biomassa vá estar sempre em condições de arder”.

O investigador Xavier Viegas, da Universidade de Coimbra, concorda. A vegetação herbácea multiplicou-se este ano devido às chuvas dos últimos meses, o que exige mais limpeza da floresta para prevenir os incêndios, defendeu.

O professor da sublinhou que “este ano a precipitação foi acima da média”, contribuindo para a proliferação da “vegetação fina” e para um maior risco de incêndio em Portugal.

Embora entenda que o pastoreio “é uma aposta que vale a pena” na prevenção dos fogos, pois o gado reduz a massa combustível enquanto se alimenta na floresta, o investigador defende “um controle destas actividades”. Nalgumas zonas do país, os pastores queimam matos “para melhorar a qualidade dos pastos”. “Às vezes, esses fogos escapam ao controle e originam incêndios graves”, concluiu.

Xavier Viegas apelou à “redução das cargas de combustível” das florestas, à limpeza das bermas das estradas e em redor das casas. “Nesta limpeza, deve ser dada prioridade próximo das habitações. Em caso de incêndio, pode não haver capacidade dos bombeiros para acorrer a todos os pontos”.

“Temos visto nos últimos anos, felizmente, por parte das autoridades locais e dos privados, o cuidado de limpar bermas, o que eu espero que aconteça”, acrescentou. No entanto, importa “estabelecer prioridades” nos trabalhos de limpeza, dado que “esta tarefa torna-se bastante dispendiosa”.

No ano passado arderam mais de 86 mil hectares de floresta e mato, um valor superior em quase 69 mil hectares ao do ano anterior, o que representa um aumento de quase cinco vezes mais área destruída do que em 2008.

Segundo dados da Autoridade Florestal Nacional (AFN), houve 26.339 ocorrências de incêndio no ano passado. Das mais de 26 mil ocorrências, 22 por cento correspondem a incêndios florestais, ou seja, onde a área ardida foi igual ou superior a um hectare, e 78 por cento a fogachos, onde as chamas destruíram uma área inferior a um hectare. Quanto ao total de área ardida, o relatório da AFN revela que 72 por cento (61.923 hectares) correspondeu a mato.

Fonte: Publico.pt

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