Para uma cidade que em 2008 tinha pouco mais de 28 mil habitantes, segundo as estimativas do Instituto Nacional de Estatística, o parque ontem inaugurado é quase uma promessa de uma população inteiramente abastecida com energia renovável. O cenário, para já, ainda não é esse, mas o presidente da Câmara de Lagos, Júlio Barroso, considera que este projecto transporta a "imagem do que se pretende para a cidade", contando a partir de agora com aquele que é o maior parque eólico do país, segundo descreveu o ministro da Economia, Vieira da Silva, durante a inauguração.
O governante manifestou-se convencido de que os novos aerogeradores irão contribuir para que Portugal atinja a meta a que se propôs: criar as condições para que 60 por cento da energia provenha de fontes renováveis. Vieira da Silva destacou também que se trata de "mais uma importante peça numa estratégia que tem a mais elevada prioridade", lembrando a importância de diversificar territorialmente a produção de energia.
O Parque Eólico do Barão de S. João representa um investimento de 70 milhões de euros, desenvolvido pela empresa E.On - um dos maiores operadores privados no mercado da electricidade e gás. O presidente da empresa, Miguel Antoñanzas, vincou que o objectivo é atingir uma capacidade de produção energética suficiente para alimentar 200 mil habitações.
Prioridade para a expansão
O autarca de Lagos adiantou ao PÚBLICO que o plano de urbanização já aprovado, mas ainda não em vigor, abre espaço e lança um desafio aos investidores e promotores turísticos. "Estamos a desenvolver o plano de pormenor do espaço Tecnopolis - a nova área de expansão da cidade, com cerca de 60 hectares - para que venha a ser uma zona onde só terão lugar os projectos inovadores em termos urbanísticos, tendo como matriz a defesa do meio ambiente e a sustentabilidade."
Júlio Barroso acrescentou que, a partir de agora, dará "prioridade na análise do processo de licenciamento aos projectos que incorporem energias renováveis".
Aves migratórias protegidas por GPS
Uma das novidades do parque eólico ontem inaugurado, em Lagos, é uma tecnologia que permite salvar aves - algo muito importante num local como este, fortemente integrado nas rotas migratórias.
O sistema foi desenvolvido por portugueses, mas é inspirado por aplicações da NASA e da Força Aérea norte-americana. As aves são detectadas por um sistema de radar e tecnologia GPS, e que travam as gigantescas pás sempre que se aproxima uma águia, cegonha, abutre ou um simples pardal. Miguel Repas, da empresa STRIX, responsável pelo desenvolvimento desta nova tecnologia para parques eólicos, calcula que os aerogeradores deverão parar cerca de 150 horas por ano.
A associação ambientalista Almargem mostra-se cautelosa em relação ao sistema de defesa das aves. "Vamos esperar para ver", disse João Ministro, lembrando que o local de implantação deste novo parque éolico de Lagos é uma "zona muito importante" nas rotas migratórias. A águia imperial, que só existe na Península Ibérica, "esteve desaparecida, e começou a ser vista naquele local há cerca de três ou quatro anos". Por isso, este vai ser um projecto que vai ser "seguido de perto" pelos estudiosos da avifauna
João Ministro considera que o mais importante é perceber a "eficácia do sistema", porém, salienta que a empresa que aplicou a nova tecnologia já fez testes com resultados positivos: "Aparentemente, funciona bem, vamos ver como vai ser na prática."
Fonte: Publico.pt
0 comentários:
Enviar um comentário