Era grande, branca e só existia na ilha da Madeira: daí ser vulgarmente conhecida como grande-branca-da-madeira. Os últimos exemplares vivos da borboleta Pieris brassicae wollastoni foram observados em Maio de 1977 na Encumeada e no Paul da Serra. Não existiam indícios de que estivesse ameaçada. Nada fazia prever que fosse desaparecer. E, por isso, nada foi feito no sentido da sua conservação.
Apesar das referências à sua última observação remontarem a 1977, António Aguiar Branquinho, do Laboratório de Qualidade Agrícola da Madeira, especialista em borboletas da ilha, salienta que "existem indicações de que estão depositados numa colecção particular exemplares colhidos de 1982 a 1986, ou seja, uma década mais tarde".
Até 1950, a grande-branca foi referenciada sempre a altitudes superiores a 650 metros, incluindo na laurissilva húmida que se estende até aos 1200 metros. "A partir desta data, começa a voar também a altitudes inferiores, em zonas agrícolas onde as suas lagartas são encontradas a alimentar-se de couve", refere António Branquinho. Apareciam às dúzias em cima das folhas da couve e, por isso, eram facilmente observadas. Em adultas, o seu tamanho e coloração branca também não lhes permitiam passar facilmente despercebidas.
O seu desaparecimento é quase um mistério, existindo por isso várias explicações para a sua extinção. A maioria das hipóteses incide nas ameaças ao habitat da borboleta, resultantes da acção humana, nomeadamente as queimadas florestais, a acção do pastoreio desordenado e as actividades agrícolas. "Sou da opinião de que nenhuma dessas hipóteses explica o desaparecimento desta borboleta, até porque algumas destas actividades já estavam em diminuição na altura dos acontecimentos e outras como o pastoreio não aconteciam no seu habitat", explica o especialista em borboletas da Madeira.
Para António Aguiar Branquinho, uma das hipóteses mais credíveis é a de Gardiner (2003) "que propõe que o desaparecimento da Pieris bassicae wollastoni ocorreu pouco depois da introdução na Madeira em 1974 da espécie Pieris rapae (pequena-branca), que foi aparentemente arrastada pelo 'leste' a partir do Sul da Europa, e que esta última poderia ser portadora de uma estirpe do vírus da granulose que afecta as borboletas do género Pieris".
De acordo com a explicação de Gardiner, a grande-branca não teria defesas para combater a estirpe, por nunca ter sido exposta ao vírus. "Este vírus poderia assim ter originado uma infecção generalizada ao ponto de dizimar as populações da borboleta", explica o especialista. E acrescenta: "Outra hipótese credível seria a introdução natural de uma vespa parasita do género Apanteles como A. Glomerata, que na Europa é responsável por 95% das mortes de lagartas das borboletas do género Pieris.
A biologia da grande-branca não chegou a ser estudada em pormenor. Como qualquer outra borboleta, o seu ciclo de vida incluía quatro fases: ovo, larva ou lagarta, pupa ou crisálida e insecto adulto.
"Pelos registos já publicados, sabemos que voava de Março a Novembro entrando em diapausa no Inverno. Pouco mais se sabe, incluindo quantas gerações anuais apresentava", diz António Branquinho.
Este especialista em borboletas acredita que das restantes três espécies e uma subespécie endémicas da Madeira, nenhuma delas se encontra em perigo.
"Das quatro, apenas a cleópatra--da-madeira, Gonepteryx maderensis, apresenta populações localizadas, mas como o seu habitat é a laurissilva e esta floresta na Madeira é a mais bem preservada da Macaronésia, em princípio, a borboleta também o estará", conclui Aguiar Branquinho.
Fonte: Diário de Notícias
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