quinta-feira, 10 de junho de 2010

Plantas estão a fugir devido a alterações climáticas


Ecossistemas estão a mover-se no planeta para fugir ao calor, ou em busca de água.

Vêmo-la estática, de raízes entranhadas na terra, mas a vegetação, afinal, move-se. Lentamente, mas move-se. Isso está, aliás, a acontecer à escala planetária devido às alterações climáticas, como confirma um estudo global feito por investigadores da universidade da Califórnia, em Berkeley, e do departamento norte-americano para a agricultura e a floresta.

Numa avaliação de centenas de investigações de campo realizadas nas últimas décadas sobre esta questão, a equipa verificou que as plantas estão a deslocar-se globalmente no planeta em dois sentidos: no dos pólos, em busca de temperaturas mais frescas, e a caminho do equador, à procura de mais água. Também se deslocam em altitude, igualmente em busca de menos calor, como as azinheiras no lado espanhol dos Pirenéus, um dos casos identificados nos estudos feitos. O problema, afirmam os cientistas, é que o clima está mesmo a mudar.

No estudo, que saiu na revista científica Global Ecology and Biogeography, o grupo coordenado por Patrick Gonzalez, da universidade da Califórnia, passou em revista tudo o que foi publicado sobre a deslocação de florestas e vegetação, incluindo estudos de vários anos de observação, em que o clima, e não a intervenção humana directa, como desflorestação, foram determinantes.

"Esta é a primeira avaliação global que permitiu verificar a deslocação de biomas [vários ecossistemas com características específicas de solo, altitude ou macroclima]", afirmou o coordenador do estudo, num comunicado da universidade. "Não se trata de uma ou duas espécies de plantas que estão a mudar-se para outras zonas", sublinhou Patrick Gonzalez, "para que um bioma ou um ecossistema se desloquem é preciso que todo um conjunto de plantas se movimente em conjunto".

Da análise feita, a equipa contabilizou 15 casos em que houve uma deslocação de biomas no planeta, nos últimos cem anos. Além da "fuga" das azinheiras em altitude nos Pirinéus, os bosques no Sahel diminuíram e transformaram-se progressivamente em pastos, e os bosques de pequenos arbustos invadiram a tundra no Árctico, entre os 15 casos detectados.

No Sahel, o desaparecimento dos bosques tem impacto nas populações humanas, que ficam sem lenha para cozinhar. No Árctico, é o caribu que perde habitat. No futuro há riscos maiores ainda.

Mais fogos e plantas invasoras

O grupo de Patrick Gonzalez desenvolveu também um modelo para estimar os riscos futuros de deslocação de ecossistemas devido às alterações climáticas. Em algumas regiões, como a Península Ibérica, um maior risco de fogos florestais é referido pela equipa. Um alerta que o projecto SIAM sobre as alterações climáticas em Portugal já havia feito. A possibilidade de plantas invasoras como a acácia ganharem terreno é outro risco por cá.



Fonte: Diário de Notícias

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