segunda-feira, 21 de junho de 2010

Voltar a caçar as baleias poderá protegê-las?


Comissão Baleeira Internacional começa hoje a discutir iniciativa para levantar parcialmente moratória que vigora há 24 anos sobre abate com fins comerciais destes grandes mamíferos.

As baleias são seres majestosos e misteriosos, que queremos ver a saltar na água e cujas canções escutamos com uma curiosidade de quem gostava de as compreender. Pelo menos na nossa parte do mundo, não olhamos para elas como um bicho que podemos comprar no talho transformado em bifes. Mas, pela primeira vez em 24 anos, essa possibilidade, encarada com naturalidade em algumas - poucas - regiões do mundo pode estar perto de se tornar mais corriqueira e sem desculpas. Com o argumento de que, assim, mais baleias serão protegidas.

O encontro que hoje começa em Agadir da Comissão Baleeira Internacional pode ser o mais importante desde 1986, quando foi decidida a moratória sobre a caça à baleia, disse o ministro do Ambiente australiano, Peter Garrett.

Em Marrocos, até sexta-feira, vai-se discutir se a proibição deve ser levantada parcialmente durante dez anos, para que os países que não respeitam a moratória - dizendo que caçam para "fins científicos" - possam matar alguns animais, com fins comerciais, mas de uma forma controlada. Será necessário respeitar quotas que significarão que muito menos animais serão abatidos do que hoje acontece.

Se aprovada, esta proposta do secretário da comissão baleeira, Cristian Maquieira, pode travar a caça desregulamentada praticada pelo Japão, Noruega e Islândia, que resulta no abate de cerca de 2000 baleias anualmente, segundo as contas oficiais.

Ciência e sushi

Nesta caça sem controlo, são mortas baleias de espécies próximas da extinção, juntamente com outras de populações em melhores condições de sobrevivência. O Japão é claramente acusado de enviar mais carne de baleia para bares de sushi do que para laboratórios científicos (alegadamente para estudar a saúde das populações destes animais), sublinha a agência AP.

A mesma acusação é feita por um denunciante anónimo, surgido recentemente no Japão, que se auto-intitula Kujira-san (Sr. Baleia) e diz ter trabalhado num barco-baleeiro, a cortar os animais que eram caçados. Grande parte da carne das baleias acaba por ser desviada pelos pescadores, que a vendem com grande lucro, acusa, citado pelo jornal The Guardian.

Se aprovada, esta medida poderia evitar a morte de mais de 5000 baleias durante a próxima década, prevê uma estimativa citada pelo Guardian, contando com as caçadas pela Islândia e a Noruega.

Os navios baleeiros teriam de levar observadores a bordo e fazer registos de ADN dos animais abatidos. Haveria também controlo da carne no mercado, recolhendo amostras, para detectar a venda de animais abatidos ilegalmente.

A Comissão Baleeira Internacional tem estado virtualmente paralisada nos últimos anos, sobretudo desde que o Japão adoptou a política de aliciar para o seu lado nações - sobretudo pequenos Estados-ilha - que não têm tradições baleeiras. Os países intransigentemente anticaça, como os Estados Unidos ou a Austrália, não têm cedido também.

O resultado disto é que a comissão não tem funcionado como o órgão regulador que deveria ser. Desta reunião de Agadir espera-se que saia um novo entendimento - resta saber se é possível.

Fonte: Publico.pt

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