Uma equipa de investigadores norte-americanos e austríacos mergulham, de noite e de dia, nas águas de Puerto Morelos, México, para descobrir por que razão alguns corais das Caraíbas conseguem sobreviver ao aumento das temperaturas.
Andrea G. Grottoli, da Universidade estatal de Ohio, estuda recifes de coral há 17 anos. Desde o ano passado, passa o Verão entre Cancún e a Praia del Cármen, debaixo de água com a sua garrafa de oxigénio às costas e no laboratório marinho da Universidade Nacional Autónoma do México. Escolheu os recifes de coral das Caraíbas por serem os mais sensíveis ao fenómeno de “branqueamento” frequente, devido à subida da temperatura dos oceanos. O limiar de perigo é um aumento de 1 a 2ºC acima das temperaturas habituais. “Se as temperaturas elevadas se mantêm, os corais começam a morrer”, alertou a investigadora.
No âmbito de um projecto de três anos (2009-2011), financiado pela Função Nacional de Ciência dos Estados Unidos, no Parque Marinho de Puerto Morales, a equipa de Grottoli quer descobrir por que razão algumas espécies de coral “conseguem sobreviver sempre” e como fazem para recuperar.
Grottoli chegou a Puerto Morales a 15 de Junho. Desde então, a investigadora e a sua equipa têm mergulhado de noite e de dia para recolher amostras de zooplâncton e coral, nomeadamente a espécie Montastraea faveolata, classificada como Ameaçada na Lista Vermelha da UICN (União Internacional de Conservação).
Os fragmentos de coral são colocados em tanques no laboratório, onde alguns são expostos a temperaturas elevadas, como por exemplo 31,5ºC. Depois os cientistas estudam as características fisiológicas associadas à sobrevivência e mortalidade das diferentes amostras, na esperança de compreender o que ajuda os “sobreviventes” a aguentar águas mais quentes.
Fenómenos de "branqueamento" passam a bi-anuais nos próximos 30 anos
No oceano, as vítimas mais famosas das alterações climáticas são os recifes de coral, grupo que já existe há pelo menos 40 milhões de anos. “Quando expostos a temperaturas elevadas, às vezes uma subida de 1,5ºC, durante um mínimo de dez dias, os corais expelem as suas algas microscópicas [graças às quais os corais têm as suas cores vibrantes] e tornam-se esbranquiçados, dando-lhes uma aparência de ‘branqueamento’”, explicou Andrea Grottoli ao PÚBLICO.
Até agora, o episódio mais dramático aconteceu em 1997/1998 com o fenómeno El Niño. Cerca de 16 por cento de todos os recifes de coral do planeta foram danificados.
Mas Grottoli não tem o tempo a seu favor. Segundo a investigadora, nos próximos 30 anos, a frequência e intensidade dos fenómenos de “branqueamento” deverá aumentar, passando a acontecer duas vezes por ano. Mais a curto prazo, o trabalho de investigação foi afectado pela passagem do furacão Alex. O mau tempo dos dias que antecederam a chegada de Alex dificultou os mergulhos. A 24 de Junho, uma tempestade fez com que trabalhassem como se estivessem dentro de uma máquina de lavar, contou. E depois Alex chegou. “Perdemos três dias de trabalho e não conseguimos concretizar a tempo uma série de medições importantes. Mas, apesar disso, conseguimos continuar o nosso trabalho”, contou.
Com os resultados da sua investigação, Grottoli e a sua equipa esperam conseguir aconselhar os responsáveis de áreas marinhas protegidas e grupos conservacionistas sobre como proteger os corais, integrados num ecossistema que funciona como “casa”, protecção e fonte de alimento para muitas espécies marinhas. Além disso, actuam como barreira de protecção para as populações das zonas costeiras e fonte de alimento, através da pesca.
Segundo o Atlas Mundial dos Recifes de Coral, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua) em 2001, estes ecossistemas ocupam cerca de 284.300 quilómetros quadrados, ou seja, uma área metade da superfície da França.
Fonte: Publico.pt
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